TINA

TINA

Autor: Clayton Garcia

Clóvis

Subiu correndo as escadas e só depois de chegar no último andar viu que seus tornozelos sangravam, tamanha a força que pisara sobre os degraus. A droga do elevador nunca funcionava e, além disso, precisava sair logo dali, ela não sabia quanto tempo ainda lhe restava.

Não sabia também ao certo como tudo começou, mas, para qualquer lugar que olhasse, ele estava lá, com aquela face inerte para o nada. Passaria por um perfeito idiota, não fosse um psicopata. Nada mais importava agora, apenas, que tinha que correr. Mudar de nome, de estado, de vida e tudo isso, se ainda fosse capaz. A porta estava trancada. Não dava para voltar os quinze andares agora e aquela câmera não fazia nenhuma diferença. Jogou o corpo contra a porta várias vezes até deslocar o ombro. Não havia muito o que fazer, quebrou o vidro e cortou-se nos estilhaços enquanto abria a janela. Dentro do apartamento, tudo como estava. As seringas ainda sobre o centro, uma garrafa de uísque barato pela metade e roupas espalhadas na casa.

Passos no corredor, era ele. Cris correu para o quarto e inutilmente fechara a porta. Ele já quebrava a parte superior em frangalhos. Dava para ver os olhos dele, vermelhos de heroína, e o nada amigável cutelo com uns 40 cm de lâmina... ela correu para o banheiro. Não conseguia gritar, não havia voz, a garganta secava. Em questão de minutos, poderia não estar mais ali. Decidiu não pensar nisso, apenas fechou os olhos. Sentiu as mãos de Willy sobre seus cabelos, arrastando-a em direção à pia. Com a precisão de um açougueiro, cravou no pescoço dela o cutelo num golpe simples e levantou-a para a pia ligando a água na vazão mínima. Agora o sangue escorria com a água enquanto ele saía calmamente do apartamento, levando o cutelo consigo. Dias depois a justiça definiria aquilo como suicídio e arquivaria o caso por falta de provas, porque não havia nenhum Willy. Muito menos cutelo. A única coisa que a polícia encontraria no banheiro seria uma lâmina pendendo nas mãos de Cris e o sangue lavando a tina.

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