ANGÚSTIA

ANGÚSTIA

Autor: JRM Torres

350"

Isso já aconteceu (mais ou menos assim, em outro país) e foi relatado num

livro de sucesso.

Simplesmente... demoníaco!

Frederick Forsyth que o diga. Essa obra é em homenagem a ele.

Mas bem que poderia ter acontecido no Brasil

***

Brasília.

Era o dia sete de setembro. Feriado em todo o país. Um dia de sol, em que o

vento refrescava o calor reinante. Calor de final de inverno, surpreendente

e bem-vindo.

Sete horas.

Parou o carro a cem metros do local desejado. Saiu do carro, levando a

mochila.

Estava devidamente caracterizado: peruca de cabelos brancos, óculos escuros,

bigode postiço, braço esquerdo no gesso, seguro por uma tipóia, camisa lilás

de mangas compridas, calça jeans e uma bota ortopédica que o fazia

claudicar.

Foi andando lentamente (mancando da perna esquerda) até o prédio. Passou por

três ruas, dobrando à direita e à esquerda. Sabia da intensa movimentação no

outro bairro, onde a segurança fora reforçada.

Havia alugado o apartamento, no décimo quinto andar daquele prédio de vinte.

O letreiro era nítido e luminoso: “Edifício Kleber Jungs”.

Encontrou a porta aberta. Cumprimentou a moça da recepção, que lia uma

revista, atrás de um balcão. Ela mal o olhou. Afinal, o que ela poderia ver?

Um velho aleijado, decadente, que arrastava a perna esquerda e levava uma

mochila velha. Algo entediante, claro. Logo o esqueceria.

Percorreu o saguão insosso. O prédio era relativamente novo, porém decadente

e precisando de reforma.

Parou diante do elevador. Apertou o botão de entrada. Com um lenço, que

retirou do bolso da calça, limpou o botão. Não tocou em mais nada. Lá

dentro, apertou o número 15. Repetiu a operação, com o lenço.

A viagem durou alguns segundos. Respirou fundo e segurou firme a mochila.

Desembocou no décimo quinto andar. Seguiu pelo largo corredor.

Destrancou a porta do apartamento de número 1507. Abriu a porta com o ombro.

Entrou no recinto. Fechou a porta com o pé direito.

Sem perder tempo, atravessou o aposento e entrou na suíte. Havia uma cama de

casal, o armário e um criado-mudo, sobre o qual via-se uma TV de vinte

polegadas. Abriu (sempre com o lenço protegendo a mão) a porta de vidro, que

dava acesso à varanda. Pisou o chão da varanda. Respirou o ar seco de

Brasília.

Lá embaixo, por entre os prédios, a cerca de um quilômetro, na direção sul,

a multidão aguardava, aglomerada nas arquibancadas.

Deixou a mochila no chão. Retirou a tipóia e o gesso do braço. Deixou-o ao

lado da mochila. Movimentou e massageou o braço, para normalizar a

circulação do sangue. Sentiu uma ligeira cãibra, mas em minutos tudo voltou

ao normal. Afinal, havia treinado e estava familiarizado com tais sensações.

Abriu a mochila e começou a montar a arma. O fez com lentidão e precisão.

Retirou a coronha e a acoplou ao corpo da arma, o gatilho junto. Depois,

juntou o cano longo e a luneta. Colocou também o silenciador.

As mãos ficaram untadas de óleo. Tudo bem.

Abriu a arma e colocou o projétil. Um único tiro. Se errasse, não teria

tempo para dar outro.

Verificou o fuzil. Estava devidamente municiado e travado. Ótimo.

Sentou-se no piso da varanda e ficou esperando.

***

Perto das nove horas as coisas começaram a acontecer.

Ouviu o barulho dos fogos de artifício.

Respirou fundo e ficou atento.

Enxugou o suor da testa e controlou o impulso de tomar uma cerveja.

Não tomara café e há horas não ingeria nenhum tipo de líquido. Isso fazia

parte do plano, pois não queria ir ao banheiro e estragar tudo.

Levantou-se e recuou para a suíte. Encostou-se na parede da porta, retirou

os óculos escuros e colocou o fuzil no ombro direito. Esticou as pernas,

ficando numa posição confortável. Observou o movimento pelo tubo da luneta.

Entre os prédios mais altos, havia uma distância de cem metros, que permitia

uma boa visão.

E foi naquele campo de visão que o viu passar.

E quando ele passou, no carro aberto, apertou o gatilho.

***

Viu o fogo e a fumaça brotar do cano do fuzil, mas não viu a bala se

deslocar, célere e mortífera, até seu destino.

O alvo se encontrava a um quilômetro.

Não esperou para ver o resultado.

Ajoelhou-se no piso da suíte e desmontou rapidamente o fuzil. Colocou tudo

na mochila. O cano estava ligeiramente quente. Fechou a mochila.

Colocou o gesso no braço esquerdo, mais a tipóia.

Enxugou o suor da testa.

Suas mãos tremiam! Procurou controlar as emoções.

Saiu do apartamento. Trancou o mesmo à chave, claro.

Entrou no elevador. Estava nervoso. Não queria ficar nervoso. Merda! Apertou

o botão da letra “T”. A descida se tornou interminável. O maldito elevador

descia lentamente e cada segundo era precioso!

“Ande, desgraçado. Ande!”

Colocou o lenço no bolso da calça. Chegou, por fim, ao térreo.

Passou pela recepcionista em passos lentos, arrastando a perna, levando a

mochila no ombro. Ela assistia a TV. Sequer olhou para ele.

Percorreu as ruas, no itinerário de volta. Queria correr, sair dali o mais

rápido possível.

Não viu nada de anormal por ali.

Dobrou à direita e avistou o Scort vermelho.

Jogou a mochila no banco do lado e sentou-se ao volante.

Ligou o carro e saiu do local.

***

Enquanto dirigia, ligou o rádio e ouviu as primeiras notícias sobre o caso.

“... o tiro não atingiu o presidente, mas acertou um menino de doze anos,

que assistia ao desfile... repito... um tiro, disparado...”

Não conseguiu prestar atenção em mais nada.

Merda!

Errara o alvo!

Havia treinado exaustivamente, em todos os detalhes e falhara!

O que devia fazer?

Bem, mas estava ciente de que as chances de acerto eram mínimas.

Provavelmente o vento interferira no movimento da bala. Ok, ok. Pelo menos

tentara. Se conseguisse escapar, faria tudo de novo. E teria que pensar

somente na fuga, a partir de agora.

Continuou a dirigir (o rádio ainda ligado) e, por incrível que pareça,

ninguém o barrou.

Logo saiu de Brasília e seguiu na direção de Goiânia.

Alguns quilômetros antes de chegar na cidade, alcançou seu objetivo.

Saiu da BR e entrou num matagal, próximo a um rio. Havia uma descida suave.

Parou o Scort ao lado de um Renault preto. Desligou o rádio. O carro havia

sido deixado ali ontem à noite e estava intacto.

Rapidamente, retirou o gesso, a peruca, o bigode, os óculos e a bota

ortopédica. Deixou tudo no Scort. Colocou a mochila no Renault. Sem a

peruca, seus cabelos eram loiros e os olhos de um verde claro. Retirou a

roupa e colocou camisa vermelha e short azul.

O Scort se encontrava na posição certa.

Ligou o Scort e colocou uma pedra (que deixara dentro do carro com esse

propósito) sobre o acelerador. Liberou o freio de mão e saiu. O carro desceu

o barranco e percorreu os cem metros até o rio. O encontro do carro com o

rio foi... borbulhante. O veículo levou alguns minutos para desaparecer, sob

as águas barrentas e escuras.

Respirou fundo e urinou perto de uma árvore. Seus nervos estavam à flor da

pele! Enxugou o suor do rosto e entrou no Renault. Também havia uma pedra no

assoalho, para fins específicos.

Ligou no carro. Respirou fundo. Voltou para a BR. Continuou viagem.

Ligou o rádio.

“... as investigações prosseguem... ainda não se sabe de onde partiu o tiro

que...”

Sentiu fome.

Passou por Goiânia e seguiu em frente. Mais alguns quilômetros e, por voltas

das duas horas da tarde, parou num restaurante. Deixou a mochila no carro.

Cansado. Faminto. Tenso. Sentia dores na coluna.

Quando entrou no restaurante, todos olhavam para a TV. Pareciam abismados,

como se não acreditassem no que estavam ouvindo.

A voz da repórter ecoava no recinto:

“... toda a área está sendo vasculhada... identificado o menino que foi

atingido e...”

Comeu bife, com arroz, feijão, salada e batatas fritas. De vez em quando

dava uma olhada na TV, só para disfarçar. Tomou uma cerveja. O calor estava

infernal.

Comeu tudo, sem pensar em mais nada, anestesiado pelas próprias emoções.

Suas mãos tremiam ligeiramente.

Pagou e saiu de fininho. Retomou a viagem, o rádio de novo ligado.

“... especialistas dizem que o tiro poderia ter partido de dois prédios

que...”

Passou pelo sul de Minas Gerais e São Paulo. Mantinha velocidade moderada e

só parou duas vezes, para mijar e abastecer o carro.

Chegou em Curitiba por volta da oito horas da noite.

Não parou. Seguiu em frente e logo chegou ao seu destino, a cerca de vinte

quilômetros depois de Curitiba. Naquele ponto, saiu da BR, entrando à

esquerda. O calor deu lugar ao frio. Um frio leve e suportável.

Havia o matagal, havia uma descida e havia o rio. E lá estava o Alfa Romeo

preto, de sua propriedade. Seu carro! Arriscara em deixá-lo ali (com o

pisca-alerta ligado) e suas suposições deram certo. Ninguém mexera no

veículo. Sensacional!

A lógica funcionava: basta deixar um carro em qualquer lugar, por horas e

dias, se for o caso, com o pisca-alerta ligado e ninguém mexe. Um fenômeno

psicológico.

A escuridão dominava o matagal, mas havia treinado e sabia como proceder.

Saiu do Renault e colocou a mochila no Alfa Romeo, debaixo do banco do

motorista, adaptado para esse fim. Despiu-se e deixou as roupas (o short e a

camisa vermelha) no Renault. Vestiu calça de algodão, preta, e um moletom

azul, que retirara do Alfa Romeo.

Ligou o Renault. Colocou a pedra sobre o acelerador e deixou o carro

despencar ladeira abaixo. O carro seguiu em alta velocidade (um vulto

sinistro se deslocando nas trevas!), e desabou sobre o rio. Em minutos

desapareceu.

Sua colina doía. Tossiu. Não sentia medo. Mas a tensão fazia suas mãos

tremerem.

Entrou no Alfa Romeo. Ligou o carro. Ligou o rádio.

“... tudo leva a crer que o tiro partiu do edifício Kleber Jungs, uma vez

que...”

Seguiu viagem. Sua mente se programava para as próximas ações.

Tinha que matá-lo! Iria fazer nova tentativa. Não iria desistir tão

facilmente. Era uma questão de honra. Não poderia morrer sem concluir essa

missão.

Aumentou a velocidade do Alfa Romeo.

Avistou as luzes de Florianópolis quando faltava vinte minutos para a

meia-noite.

Atravessou a ponte seguiu para a ilha. Penetrou nas entranhas na ilha até

alcançar o bairro Jurerê. Parou o Alfa Romeo diante da mansão de dois pisos.

Acionou o controle remoto. O portão se abriu lentamente.

Manobrou o carro para a garagem.

***

Tentou seguir uma vida normal.

No início, até que deu.

No sábado, decidiu visitar os dois filhos. Passou a tarde com eles. Um

casal: ele com oito anos, ela com seis. Lindos! Adorava-os. Idolatrava-os.

Seus tesouros.

No fim da tarde, antes de ir embora, conversou com a ex-esposa, na casa

dela:

- Tentaram matar o presidente. - ela disse, tentando eliminar o gelo que

representava o contato entre eles - Uma barbaridade!

- Pois é.

- O garoto está no hospital, entre a vida e a morte.

- Cruel...

- Ainda não prenderam ninguém. Mas dizem que já têm alguns suspeitos em

vista.

- Hum...

- Você está pálido. Está tudo bem?

- Sim.

- Virá no próximo final-de-semana, para ver as crianças? - havia frieza na

voz dela.

- Não sei. Ligarei na sexta, avisando. - disse. Teria amado essa mulher um

dia?

- Ok.

- Tchau.

- Tchau.

***

Na segunda-feira, foi até a clínica e o médico, pessoalmente, lhe aplicou,

nas veias, a dose mensal do AZT. Nenhuma enfermeira; apenas o médico.

- Está se sentindo bem? - o médico quis saber.

- Só uma tosse chata.

- Tome um xarope. E nunca se esqueça: você ainda vai viver muito.

- Espero que sim, embora o vírus continue no meu sangue.

- Infelizmente. Sua ex-esposa já sabe?

- Por enquanto não. Na verdade, ninguém sabe. Talvez um dia... Tchau,

doutor.

- Cuide-se. - o médico disse. Ao vê-lo sair, pensou: “Que sujeito estranho.

Rico, porém completamente estranho. É alienado, frio, dispersivo. Parece

esconder algo. Essa doença... Se eu estivesse no lugar dele, estaria

apavorado.”

***

Era dono de cinco hotéis: dois em Florianópolis, dois em Balneário Camboriú

e um em Laguna. Possuía dois terrenos. Outro apartamento no centro. Enfim,

tinha dinheiro para viver bem.

Passou a semana visitando, coordenando e fiscalizando suas atividades

comerciais. Ou seja, viajando no seu Alfa Romeo.

Recolheu-se na mansão, onde morava sozinho. Uma senhora visitava a mansão

todos os sábados, para fazer a limpeza. Um homem limpava a piscina uma vez

por mês. Eles sempre ligavam antes.

Instintivamente... esperava.

Quando iriam apertar sua campainha?

***

Praticava tiro ao alvo. Era um excelente atirador, claro.

Malhava numa academia. Corria na orla da praia. Tomava muita água de coco.

Com trinta e cinco anos, estava em forma.

Ia às festas e tomava uísque com gelo. Dançava. E fugia das conquistas.

Depois que soube da doença, passou a transar só com prostitutas. Com

camisinha, obviamente. Nenhuma namorada. Nenhuma amante.

Isso no início. Depois, na medida em que acompanhava as notícias pela TV e

pela Internet, sua rotina de vida mudava. Soube que o governo solicitou o

auxílio da Interpol e do FBI. Incompetentes!

Passou a dormir mal, com insônia.

Enquanto esperava.

***

Vinte dias depois, sua vida piorava.

Quase não sorria. Quase não dormia.

Isolava-se do mundo e sua saúde se dissolvia na expectativa. Parou de

freqüentar a academia. Parou de ter vida social. Tomava remédios para

dormir. Passou a beber mais.

O garoto havia morrido. Não resistiu ao impacto do tiro. A primeira vítima.

O mundo todo investigava o crime.

Enquanto isso, ele esperava.

***

Começou a ter pesadelos.

O presidente, morto, levantava do túmulo e iniciava a perseguição. Parecia

um zumbi e vinha em seu encalço. Os olhos vítreos, nu, com a pele

derretendo. Fedia.

Acordou, apavorado!

- Meu Deus! - gemeu, trêmulo.

Nervoso, tomou tranqüilizante. Dois.

***

Os dias se tornaram terríveis!

Pesadelos em sua mente! Merda!

Na mídia, soube que a polícia chegara ao apartamento 1507.

O cerco se fechava e isso aumentou sua depressão.

Enclausurou-se na mansão e bebia cerveja e uísque, diante da piscina.

A dor da espera penetrava fundo em seu corpo e em sua alma.

***

O presidente queria matá-lo!

Ele sabia! Ele sabia!

- Nãããooo!!!

Chorou, em desespero.

***

Dois meses depois, por causa dos pesadelos, caiu doente.

Estava com febre. Doente. Pálido. Sentia dores de cabeça.

Os pesadelos continuavam.

Pediu ajuda do vizinho, que o levou ao hospital. Ficou um dia internado.

Aplicaram-lhe injeções. Sua ex não foi visitá-lo. Nem soube. Tudo bem.

Recebeu alta no dia seguinte.

Na mansão, ao vê-lo dando entrevistas na TV, sentiu vontade de matá-lo. O

odiava com todas as forças de seu coração! Queria acabar com ele a qualquer

custo, concluir a missão a que se propôs. O motivo?

Por causa da doença, do fim do seu casamento, pelos pobres, pelo desemprego,

pela corrupção e por todas as merdas que infestavam o país.

Porém, não havia oportunidade. A segurança em torno dele foi reforçada.

De repente, percebeu que fracassara!

Perdera a única chance que tivera. Nunca mais poderia se aproximar dele.

Nunca mais poderia tê-lo sob a mira de um fuzil.

E chorou por causa disso.

Chorou muito... triste... em depressão... desanimado... entregue...

Pensou em se matar. Um tiro na cabeça e pronto. Mas... não teve coragem.

Merda! Merda! Merda!

Dormiu mal e teve pesadelos.

***

No dia seguinte, comprou a pistola (com silenciador) e passou a dormir com

ela debaixo do travesseiro.

Não teve coragem de atirar contra a própria cabeça.

Na TV, veio a notícia de que alguém encontrou o Scort vermelho no rio.

Como??? Uma surpresa. Algo que não esperava. Dizem que tinha impressões

digitais. Mentirosos! Imbecis!

Parou de visitar os filhos.

Sua ex-esposa ligou apenas uma vez, perguntando, mas sem nenhum interesse.

Ela preferia evitá-lo, pois nunca o amara. Inventou uma desculpa qualquer,

que ela aceitou. Não tinha mais filhos. Não tinha mais nada.

Tomava as doses do AZT, mas não conversava com o médico.

Passava os finais-de-semana dentro da mansão, tomando cerveja e uísque.

Só saía quando a senhora chegava para limpar. Deixava-a sozinha e só voltava

quando ela ia embora. Dane-se o que ela iria pensar!

Embriagava-se e esperava.

Até que, três dias depois, numa tarde de terça-feira... aconteceu.

Ouviu o toque sinistro (aquele que tanto temia!) reverberar pela mansão:

“Blém! Blém!”

Estremeceu!!!

***

A campainha! A campainha!

Era chegado o momento! O som que traz a morte. Pelo horário, sabia que não

era a senhora da limpeza e muito menos o limpador da piscina.

Percorreu os degraus da escadaria em passos trôpegos, tentando controlar o

nervosismo.

A pistola estava no cós da calça, na parte de trás. Carregada e destravada.

Vestia bermuda jeans e camiseta verde. Olheiras, a barba por fazer.

Chegou até a sala. Pelo olho mágico, viu dois homens, que vestiam terno e

gravata.

Eram eles!!!

Não havia mais dúvidas.

Respirou fundo e sacou a pistola.

Abriu a porta.

Sem titubear, apontou a pistola para os dois homens e seus dedos trêmulos

apertaram o gatilho. Dois tiros em cada um. Viu os corpos estremecerem e

caírem no piso gramado. Os homens morreram sem emitirem um gemido, a

surpresa nos olhos. Tudo aconteceu em poucos segundos.

Ótimo.

Saiu da mansão (a temperatura em torno dos trinta graus) e manobrou o Alfa

Romeo para a entrada. Um Corsa preto se encontrava parado ali perto.

Colocou os dois cadáveres no porta-malas do Alfa Romeo.

Trancou a mansão e saiu pelo bairro Jurerê.

Percorreu a ilha até encontrar uma área isolada, a alguns metros da BR 401.

Parou o Alfa Romeo perto de um matagal. Retirou os corpos do veículo e os

deixou ali, entre moitas e arbustos. Respirou fundo. Nos olhos, o brilho da

insanidade.

Retornou para a mansão.

Resolveu deixar o Corsa preto ali mesmo, apesar de ser um indício contra

ele.

Foda-se!

***

A noite chegou.

Tomava uma cerveja em lata, deitado no sofá. Mãos trêmulas, rosto pálido,

olhos vidrados, alma mortificada.

Ouvia uma música romântica e lúgubre. A música penetrava sua alma,

enchendo-a de tristeza.

Restava-lhe esperar.

Sabia que estava perdido. Sabia que iria morrer. Mas iria vender caro sua

morte. Ficaria famoso. O mundo inteiro saberia o que havia feito. A mídia

iria idolatrá-lo como o maior expoente da loucura brasileira. O ápice do

mal! Sorriu. Mas iria fazer mais.

Enlouquecido, havia tomado uma decisão.

Iria matar quem apertasse aquela campainha.

Qualquer um!

Ah, se tivesse acertado aquele tiro...

FIM

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