O ATAQUE DO MEGATRON

O ATAQUE DO MEGATRON

Autor: JURANDIR ARAGUAIA



O Ataque do Megatron


Sempre me vejo nesses futuros-passados distantes vivendo outra vida que também é minha. Surto nesses incontáveis universos paralelos que se fundem em momentos específicos do contínuo-espaço-tempo. Encontro-me na idade de dez anos e adoro circular pelas vizinhanças de meu bairro em potentes e impensáveis bicicletas. Não possuem as correntes normais às quais estamos acostumados. Pedalamos com velocidade sobre feixes de raios que oferecem resistência suficiente a trabalhar os músculos e impulsionar o artefato. São feitas por fibras de metal cuja cor varia conforme nosso estado de ânimo e, sendo crianças, todos os matizes se misturam dando a cada veículo conotação especial e particularíssima.

Meu grupo de amigos e eu nos deslocamos para um terreno baldio próximo no qual foram lançadas as bases de pomposa edificação. As construções eram efetuadas em indústrias específicas e os prédios transportados em bloco para o terreno no qual seriam instalados. Nossa civilização desenvolveu poderosa tecnologia, com respeito ao meio-ambiente, e graças a ela vivíamos em grandes e despoluídas cidades.

A montagem dos edifícios em local isolado oferecia inúmeras vantagens. Criávamos setores específicos nos quais os ruídos e trabalhos não incomodavam ninguém. Os trabalhadores eram transportados para um único ponto, o que reduzia os custos. Toda uma logística era criada e a vida nos bairros podia manter-se em relativa paz. O advento de acoplar um novo bloco atraía muitas atenções.

Chegamos na hora e pudemos ver os fabulosos guindastes deslocando-se com o prédio a grande altura. Graça à tecnologia anti-gravitacional (AG), as pesadas estruturas pareciam feitas de isopor. Eu ficava boquiaberto. A polícia garantia o isolamento e a fluidez do tráfego que, por ser horário comercial, não era muito intenso – as pessoas estavam nos seus locais de trabalho e não tínhamos multidões disponíveis nas ruas, somente nós, em férias.

Foi criado um ponto no qual todos podiam assistir ao acoplamento, em um terreno mais alto e vizinho. Enfileiramos nossas bicicletas e conferíamos a maravilha que se passava acompanhados por alguns que se encontravam em licença do trabalho ou tinham vencido seu ciclo produtivo. Os monstruosos guindastes, orientados pelos sensores em terra, encaixariam a estrutura perfeitamente nas bases já instalada no subsolo. Era um templo religioso novo. As partes mais sensíveis como vitrais, louças, e alguns pisos eram afixadas depois, para não quebrar se o impacto fosse forte ou se algo saísse errado – o que era um excesso, devido ao histórico de obras bem sucedidas.

Meus olhos vibravam de emoção. Quatro poderosos robôs prateados, os Magtrons, responsáveis por conferir a instalação e a perfeição do trabalho, encontravam-se na terra e coordenavam com sinais digitais a perfeição da manobra.

Eu era um admirador daquela categoria de máquina. Possuíam duas poderosas pernas que possibilitavam deslocar-se com certa facilidade, quase humana. Os braços múltiplos articulados podiam executar serviços de solda, de corte de metal, dobrar o aço e levantar muitas toneladas. Deviam ter cerca de três corpos de altura (um corpo equivale à altura de um homem normal de duzentos centímetros). Alguns foram equipados com dispositivos AG e podiam auxiliar no patrulhamento noturno e combate aos Péricles – um grupo que condenava o excesso de tecnologia e a acomodação de todos a um sistema global de produção e consumo e costumavam agir com violência sabotando o nosso progresso.

Assim que o prédio aproximou-se, algo saiu do controle. Um dos Megatrons, de modo inesperado, lançou Pulsos de Energia contrária aos demais desequilibrando-os e abatendo-os ao solo. Tombaram com grande ruído e estardalhaço. Um deles destruiu dois veículos na rua. Um segundo rodopiou e arrebentou-se contra um prédio de vidro próximo, lançando cacos por todo lado. As pessoas, em pânico, dispararam a correr. Assistíamos, com certeza, a mais um atentado dos Péricles. Deviam ter sabotado o Megatron com algum dispositivo viral computadorizado. O terceiro Megatron caiu no terreno em que a estrutura se acoplava e foi esmagado. O ruído foi ensurdecedor e o prédio desalinhou, inclinando-se em nossa direção ameaçando esmagar-nos. Felizmente foi estabilizado pela força dos guindastes. O Megatron acionou seu AG e utilizando do dispositivo cortante rompeu um dos cabos de sustentação. O prédio girou alguns graus no ar e colidiu contra a torre de comunicação de uma edificação ao lado. Meus amigos já haviam se retirado.

Extasiado pelo espetáculo, não conseguia mover-me. A torre inclinou e tombou em minha direção. Eu via a pesada estrutura aproximando-se a grande velocidade e já me dava como morto. Inesperadamente o Megatron rebelde saltou em minha direção e colocou seu poderoso corpo entre eu e a estrutura. O impacto estilhaçou a torre. Senti um pedaço de metal cortando minha perna. O Megatron lançou em mim seus olhos vermelhos e cintilantes.

Um tipo de instabilidade surgia.

- Afaste-se! – gritou com sua voz articulada. Mesmo com a perna sangrando pedalei desesperadamente. Aquele Megatron, ainda que sob efeito do vírus digital, não pôde vencer a primeira diretriz universal dos cibertônicos: “um ciborg não pode fazer mal a um ser humano e nem, por inação, permitir que algum mal lhe aconteça.” Mesmo os Péricles não queriam que os humanos se ferissem. Suas ações articuladas atraíam ódio e não simpatia. O Megatron entrou em surto biocinético e seus dispositivos desligaram-se. Seguiu-se uma grande ação para restabelecer o controle e resgatar os Megatrons danificados. Depois daquela tarde muitos Péricles se renderam. A notícia de que um menino se ferira na ação desprestigiou de vez o grupo e nossa sociedade pôde caminhar em paz rumo ao infinito progresso técnico-científico-social...



FIM

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