O JANTAR
O JANTAR
Autora: Well
- Mãe, eu tô com fome! – Disse o garotinho loiro largando o livro de colorir.
- Fique calmo, Arthur,o entregador já vai chegar... – Disse a mulher também muito loira,passando a mão nos cabelos do menino.
Sentados no sofá, com a tv ligada, mesmo sem estarem vendo, eles formavam uma família bonita, ainda que algo estranho fosse óbvio nos olhos dos dois.
A campainha toca, a mulher levanta, conversa com o entregador e, colocando a pizza em cima da mesa, ela pergunta se ele pode olhar o garotinho enquanto ela preenche um cheque no quarto.
Mesmo pouco à vontade com o quieto e estranho garotinho, ele concorda, olhando o belo corpo da mãe. Vendo o estranho garotinho colorir seu livro, ele pensa o quanto o dia foi cansativo, pensa nas noites que ficou sem dormir por causa dos dois empregos. Seus pensamentos são interrompidos pelo ruído da porta sendo fechada. Ele vira ainda em tempo de ver o estranho garotinho trancando a porta. Pensando que se trata apenas de uma travessura de criança, ele diz.
- Ei, garoto!Eu não vou ficar não...Por que você não chama a sua mãe pra que ela abra a porta e eu possa ir?
- Porque você não vai... – Disse o garotinho fixando os olhos agora vermelhos no entregador.
Achando tudo aquilo tudo estranho, o entregador sentiu uma vontade enorme de sair daquele apartamento. Ao tentar se aproximar da porta, ele sente uma mão tocar seu ombro. A voz sussurrante da mãe parece se espalhar pelo apartamento todo.
- Acho que você não ouviu meu filho...
Ao olhar para a mulher, ele viu que ela tinha um facão nas mãos. No primeiro golpe, o entregador gritou, mas ela sabia que ele faria isso,era o que todos faziam. Por isso tinha, reforçado a porta e as janelas. Os gritos dele jamais sairiam do apartamento...Enquanto o encostava na porta e fatiava-o abaixo das costelas, a mulher ouvia os gritos de seu filho que dizia:
- Eu também quero fatiar!Eu também quero fatiar!
- Cale-se Arthur! Sente-se no sofá, o jantar está quase pronto! – Gritou a mulher, jogando um pedaço de carne recém-arrancada para o menino.
O entregador estava à beira de um desmaio, o ultimo de sua vida, mas com um fio de consciência e, em meio à enorme dor, ele ouviu o som do telefone. Aquela seria sua ultima chance de ser salvo, se ele pelo menos tivesse forças para gritar por socorro.
Jogando o homem no balcão da cozinha, a mulher foi atender o telefone,suas mãos cobertas de sangue ainda escorregaram um pouco no botão de ligar,mas logo ela ouviu a voz do outro lado, que dizia:
- Marion! Nossa, finalmente consigo falar com você. O chefe está uma fera e ...Marion? O que são esses gritos ai?
- Ah! Desculpe, Carlos, eu estou jantando com meu filho, que está vendo um filme de terror...Sabe como são as crianças... – Falando isso, Marion disse ao filho:
- Arthur, dê um jeito nessa TV!Mamãe não consegue ouvir nada...
Aproximando-se do entregador, o menino lhe corta a língua, fazendo os gritos cessarem. Marion continua sua conversa no telefone:
- Olha Carlos,eu ligo pra você daqui a alguns minutos...É que a hora da refeição é sagrada...
Quando ela desligou, o entregador viu que estava perdido; a partir de então seria só dor. Ele se entregou a seu destino, fechando os olhos pela ultima vez...
Algum tempo depois, Marion recolhia os ossos e restos de carne do balcão, jogando-os num saco escuro. Deitado no sofá o garotinho reclamava.
- Mamãe...Os garotos do colégio continuam me perseguindo...
Sem desviar os olhos do que estava fazendo, e visivelmente chateada, ela respondeu:
- Malditos garotos...Mas, não se preocupe Arthur...Mamãe vai convidá-los para jantar na semana que vem...Mamãe vai ensinar a eles o que é uma perseguição de verdade...
Aproximando-se da mãe, e jogando mais um osso dentro do saco, o garotinho disse:
- Mamãe eu amo você, mas não gosto de pizza...
- Eu também, não meu filho. Amanhã eu vou ligar para o restaurante mexicano...Dizem que esse povo tem sangue forte... – Respondeu Marion fechando o saco e jogando na lixeira cuidadosamente.
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