ESPADA, MAGIA, SEDUÇÃO (CONTO) - Rafael "Iron" Olhaberriet

Espada, Magia e Traição

Rafael “Iron” Olhaberriet.

Nos descampados do norte no Reino da fronteira, entre as brumas surge um homem, montado á cavalo e de espada em punho, o clima frio o obriga a ostentar uma capa feita da pele de um urso negro, um vento gélido sopra naquela região e faz o rosto do nórdico ser açoitado com a dourada cabeleira, em uma das mãos traz a lâmina tradicional do povo Hiboriano1, larga, pesada, e quase do tamanho de um homem, na outra mão tem o controle das rédeas de sua imponente montaria e as amarras de uma preciosa mercadoria, vidas humanas. O selvagem aesir2 puxa por uma grossa corda sua valiosa carga, são homens, mas não como ele, são magros e fracos, de terras civilizadas do sul. Seu destino é a região montanhosa do reino, lá ele venderá seus cativos e quem sabe ganhe uma boa quantia desta vez, já que traz um feiticeiro que tem contas á acertar com Adamus, um mago que reside na vila de Lucerthan, já o outro é apenas um ladrão de estrada que veio como bônus.

Vamos negociar nobre amigo, você não precisa me entregar, podemos fazer fortuna juntos como um bando o que acha? Meu cérebro e seus músculos, e se o ladrão quiser, pode servir como vassalo. Fala o feiticeiro estígio3, esguio como uma serpente.

Com os dentes á mostra o bárbaro responde:

Ha! Você não está em posição de negociar bruxo! Além do mais só estou trabalhando com malditos feiticeiros de sua laia por causa da quantia que me foi prometida, e é melhor calar essa sua boca fedorenta antes que eu te amordace, ou melhor, é isso que vou fazer agora mesmo!

O jovem aesir sabe que terríveis maldições de morte poderiam ser proferidas pela boca do mago, mas não era essa sua única preocupação, a região onde passavam era conhecida por ser assombrada e patrulhada por criaturas tão horrendas que pareciam ter saído de pesadelos.

Bom, agora que você calou esse charlatão que tal conversarmos sobre minha parte nisso tudo? Pergunta o magro ladrão de estrada zamoriano4.

Você sabe, de alguma maneira eu te ajudei a pegar o mago!

Estar assaltando ele no momento em que eu o capturei não quer dizer que você me ajudou larápio! Responde com um leve sorriso o jovem nórdico.

O frustrado assaltante baixa a cabeça e indaga-se como se deixou pegar por um brutamontes lerdo como esse, logo lembra-se que a pancada em sua cabeça foi tão forte que ele não teve muitas chances de correr nem de ficar em pé.

Enquanto isso a sombra noturna caía sobre o vale, os deuses da noite jogavam seu véu negro sobre o sol, o mercenário de coração gelado como o vento que batia em seu rosto preocupava-se mais em prestar atenção nos vultos que os seguiam á horas do que com as asneiras do magricelo Cyrus. Os cativos e seu algoz encontravam-se em um descampado sem muitas opções de abrigo para passar á noite, além da grama como cama e o céu nublado como teto.

Mesmo mergulhado em seus pensamentos, o zamoriano continuava com seus sentidos bem atentos e percebeu a presença de outros viajantes, que estavam mal intencionados, e iniciava uma série de movimentos para se livrar das suas amarras, o feiticeiro atento aos movimentos do gatuno só rezava para que depois que conseguisse se soltar, o ladrão também o ajudasse a fugir.

No momento em que conseguiu se soltar das cordas, Cyrus foi surpreendido pelo bote da criatura que os seguia, mas com um som abafado e sem proferir nenhum gemido se quer, a criatura cai ao chão, decapitada, o jovem aesir joga uma adaga e grita ao aterrorizado zamoriano:

Lute por sua vida e eu pensarei no caso de sua liberdade!

Não precisa mandar! Responde Cyrus.

Nesse momento impera a carnificina no vale, dezenas de criaturas iguais á que jaz decapitada no campo surgem na escuridão, Eldgrimm faz uma colheita de braços, pernas e cabeças, já o ladrão ainda amarrado á Neser pela cintura, faz golpes precisos, bem colocados e sem muita sujeira, mas que causam estragos quase tão devastadores quanto a desajeitada lâmina nórdica....quase. Ao feiticeiro amordaçado e proibido de usar suas artes negras contra as criaturas, só resta a sorte de não ser atingido pelas clavas dos oponentes.

No fim do combate só restam três homens em pé e um agonizante integrante do estranho grupo, uma disforme e assustadora semelhança entre homem e macaco, um elo perdido? Ou apenas uma raça degenerada por sua corrupção? Perguntam-se os vitoriosos. Isso nunca esses três sobreviventes saberão, pois o último dos estranhos seres morre em grande sofrimento, vislumbrando suas entranhas e seu sangue jorrando aos pés de seus conquistadores.

Viram? Formamos um grupo excelente! Fala com orgulho o feiticeiro que acabara de se soltar enquanto os outros dois rapazes examinavam as criaturas.

Como se soltou nesse caos todo? Pergunta Cyrus.

Suas artes furtivas não me são tão desconhecidas batedor de carteiras. Neser responde com superioridade.

Vocês dois ai! Não pensem que se livraram de mim. Grita o jovem Eldgrimm.

Bom você disse que eu estaria livre se sobrevivesse! Reclama Cyrus.

Eu disse que pensaria no caso, e cheguei a conclusão de que você é perigoso demais pra ficar solto por ai!

Nesse momento a discussão é interrompida pelo som tenebroso de um uivo, não o uivo de um simples lobo, mas uma mistura de fala primitiva com o agouro de um demônio, que causa calafrios á todos que testemunham sua sonoridade horripilante.

Está vindo do Oeste! Prontamente percebe Cyrus.

Sim é verdade, vamos rumar para o leste, tentar alcançar a fronteira com a Britûnia e deixar esta terra maldita. Sugere o feiticeiro, enquanto começa sua caminhada.

Um momento ai bruxo! Você vai por onde eu quiser! Ou prefere morrer aqui mesmo?! O aesir chama a atenção de Neser.

Eu sei de algumas ruínas não muito longe, poderemos passar a noite lá, e depois continuaremos a viajem até Lucerthan. Conclui o bárbaro.

Ruínas você disse? Humm interessante.... Sorri o ladrão.

Os três homens continuam a caminhada através do descampado, uma leve garoa os atinge durante o percurso traçado por Eldgrimm, até alcançarem um pequeno e escuro bosque que esconde as ruínas de um castelo. O grupo chega até o local sem maiores problemas além do frio e a chuva que começa a ficar forte.

Ao avistarem as ruínas percebem que apenas uma das torres do majestoso castelo continua em pé, onde existia o portão, agora somente há escombros, a antiga muralha tombou á muitos anos. Logo na entrada já pode ser percebido o estado da ruína, o salão principal está tomado pela vegetação e o bosque que uma vez rodeava o castelo, agora o engole em suas entranhas verdes, poucas peças da mobília ainda podem ser aproveitadas como camas ou assentos, apenas duas das oito portas que podem ser vistas no salão circular, ainda tem passagem, todas as outras foram bloqueadas pelas pedras do teto que cederam, a chuva continua caindo do lado de fora, o que não é muito diferente no interior da construção.

Você tem certeza que esta pocilga é segura? Pergunta impacientemente o mago.

Segura ou não, é aqui que passaremos á noite seu frouxo! Se não gostou, eu amarro você lá fora com os malditos homens-macacos! Responde com aspereza Eldgrimm.

Bom já que a situação me impossibilita de fugir de você grandão, eu vou procurar algum lugar pra dormir, a caminhada e o inesperado combate me deixaram exausto. Dissimula o esperto zamoriano.

Faça o que quiser! Responde o bárbaro.

Eldgrimm ajeita-se sobre um antigo divã com toda a tranqüilidade, pois sabe bem que nenhum dos dois sujeitos tentará escapar através dessas terras malditas até amanhecer.

Neser encontra algumas cadeiras que juntas poderiam agüentar seu corpo magro.

Enquanto isso, Cyrus dirige-se até uma das portas que ainda resistem ao cruel efeito do tempo. Ao passar pela porta ele encontra-se em um corredor de aproximadamente 8 metros de comprimento, nas paredes ainda é possível encontrar alguns quadros antigos, mas em péssimo estado, no final do corredor existe uma porta, mas está selada, na parede direita o ladrão percebe um buraco, grande o bastante para um homem passar rastejando, ele se aproxima e acende uma tocha que fez com trapos e uma pata de cadeira. O rapaz abaixa-se e atravessa o buraco, existe uma outra sala, ele percebe que se trata de um quarto, está escuro e frio no local e a chuva encontra sua entrada através do decadente teto, as janelas estão pregadas, ele encontra algumas jóias antigas na gaveta de um criado mudo e um candelabro de prata em cima do mesmo, depois dirige-se até a porta, ela está destrancada, sua maçaneta quase é arrancada quando ele faz força para abri-la, e sai em uma escadaria, não é possível subir, pois a passagem está bloqueada pelos escombros do teto que já não existe mais, Cyrus sente a chuva gelada em seu rosto enquanto desce a escadaria em espiral, provavelmente o caminho para uma masmorra. Seu caminhar é cauteloso como o de um gato, suas roupas de couro especialmente preparadas, auxiliam o amortecimento de seus passos.

No final da escadaria ele chega em um corredor cheio de celas, o odor da morte o cerca, muitos ossos humanos espalhados pelo chão, como se um massacre tivesse ocorrido ali em eras imemoráveis, mas não há sinal de armas ou armaduras junto ás ossadas dos vencidos, nesse momento o zamoriano ouve gemidos vindos de uma das celas, cautelosamente ele se aproxima e espia o nefasto ritual, uma criatura semelhante ás que lhe atacaram no vale está com o corpo de uma jovem nua, ele não parece estar á devorando, mas está em cima do cadáver, como se estivesse copulando.

Necrofilia! Pensa o aterrorizado rapaz.

Ele fica tempo o bastante para presenciar o momento em que a criatura começa a devorar a carne fria da garota de cabelos ruivos. Não acreditando no que vê, o jovem sai correndo pelo corredor em direção ás escadas, sentindo como se a criatura o estivesse seguindo, quando chega no quarto e tenta passar pela fissura na parede, suas pernas são puxadas de volta no momento em que seu corpo já estava saindo do outro lado, gritando desesperado por ajuda, Cyrus sabe que seu fim será cruel, quando se vira e vislumbra a criatura horrenda que o agarra ele escuta uma voz ecoada vindo de trás da parede do corredor, nesse momento as pedras da antiga parede são arremessadas contra a criatura e a luz da tocha de Neser atinge o quarto, um flash prateado passa pelo meio da besta, cortando-a em dois. O zamoriano que esperava pela morte certa, agora assiste ao espetáculo de sangue que jorra das duas metades do monstro jogado ao chão, ele olha para trás e vê o mago parado estendendo a mão para ajudá-lo á se levantar e em sua frente está Eldgrimm de espada em punho e banhada em sangue.

Barbas de Ymir5!!! Quem é esse seu amigo? Pergunta energicamente o aesir.

Mais uma besta! Estava praticando blasfêmias neste local, á um bom tempo! Pela conservação do cadáver da garota provavelmente não devemos estar longe da cidade onde está nos levando. Responde o atordoado rapaz.

De que garota você está falando homem?! Novamente se expressa o bárbaro.

Longa história. Cyrus corta o assunto.

E como vocês derrubaram essa parede?

Bom...Esses poucos momentos de descanso me garantiram algumas fagulhas de poder mágico para usar esse tipo de feitiço. Explica orgulhosamente o feiticeiro da negra Stygia.

Muito bem, voltem para o salão! Dessa vez todos vão ficar juntos, não falta muito para amanhecer, e quero partir assim que isso acontecer. Ordena Eldgrimm.

A sofrida comitiva retorna para o salão que estão usando como abrigo e passam mais algumas horas lá. Eldgrimm se manteve vigilante durante esse tempo, sabe que não seria bom para os negócios se o estígio Neser morresse, e pior ainda se Cyrus os matasse enquanto dormiam.

A lua cheia elevava-se resplandecente como uma pérola no incomensurável mar negro do céu noturno, já não se via mais nuvens de chuva, e sua luz refletia perpétua sobre o aço dos peitorais usados por um pequeno destacamento da guarda Zamoriana.

Aproximando-se do acampamento vinha um batedor, á cavalo, seu rosto denunciava sua aflição e medo.

Tenente Harphagus! Tenente Harphagus! Encontrei vários cadáveres após aquela colina á Nordeste, não posso lhe dizer o que são, mas provavelmente foram mortos pela espada. Grita o atemorizado soldado.

De uma tenda montada no centro do pequeno acampamento, surge um homem alto e de aparência poderosa usando um peitoral de aço, um elmo espiralado e de Cimitarra6 em punho, sua pele de tom pardo e sua barba e cabelos negros revelavam sua natureza zamoriana.

Quantos você viu soldado? Friamente questiona Harphagus.

Eram 10 ou mais senhor! Criaturas bestiais, mais demônios que homens.

Aquele ladrãozinho de meia tigela não poderia ter feito isso sozinho, o nórdico assassino deve ter fugido com ele. Homens! Acabou o descanso, esses malditos criminosos vão ter o que merecem esta noite! Euforicamente comanda o Tenente.

Rapidamente os 40 soldados levantam acampamento e começam a marcha. Passam pelos cadáveres dos habitantes das colinas assombradas do Reino da fronteira, nesse momento Harphagus ordena uma parada á sua pequena legião e investiga os corpos dilacerados.

Sem duvida a espada do aesir derrubou várias das criaturas, juntamente com golpes de adaga, dignos daquele infeliz do Cyrus. Continuemos soldados!

Assim continuaram sua busca pelo aesir e seu suposto cúmplice e não menos culpado Cyrus, o grupamento marchou através das colinas até alcançar um pequeno bosque, entre as árvores podiam ser percebidas torres de uma construção, provavelmente um bom abrigo para os criminosos.

Muito bem guerreiros, preparem-se para esmagar aqueles malditos! Vamos cercar a ruína e não dar chance alguma á eles, tentem ser silenciosos até eu comandar o ataque.

Os soldados adentram o bosque. A luz da lua mal ultrapassava as copas das árvores e escassamente iluminava o que se tornaria um campo de batalha, um local onde Harphagus acreditava que chagaria seu momento de glória, e quem sabe sua promoção para Capitão da guarda, e assim, nada mais de missões como esta.

No momento em que o grupamento chegou á entrada da ruína, se deparam com uma visão sórdida, sangue e ossos para todos os lados, a única coisa que poderia ser identificada entre a possa de restos ensangüentados, era uma cabeça, mas não humana, e sim da montaria do nórdico, junto á tudo isso estavam vários Homens-fera, todos eles com morte e fúria em seus olhos, se deleitando com a carcaça do falecido animal. Harphagus, sem pensar duas vezes, comandou seus homens para que trucidassem as criaturas.

Saindo do bosque não muito longe dali, Eldgrimm, Cyrus e Nesser, fogem o mais rápido possível.

Afinal você não é tão inútil bruxo! Comenta o forte Aesir.

Vocês têm sorte de terem alguém como eu por perto, ainda bem que tinha energia mágica necessária para lançar uma ilusão que conseguisse atrair as feras, você poderia reconsiderar bárbaro, como já lhe disse antes, poderíamos fazer uma boa dupla. Responde o ofegante Neser.

Não se esqueça de mim chacal! Também fiz muito por você quando o guiei pelas ruas de Shadizar no momento em que você me obrigou. Reclama Cyrus ao bárbaro.

Hah! Pela soma que Adamus me prometeu, jamais deixaria você escapar! Você teria que me dar o dobro, o que você não carrega nesse momento. Esclarece Eldgrimm.

É verdade, mas você sabe o motivo de Adamus querer me capturar? Pergunta Neser.

Não me interessa de qual insulto você o chamou, nem a escrava sexual que você roubou dele, a única coisa que ele me disse foi que eu receberia muito bem por sua captura, vivo de preferência.

Bom... Já que você é ignorante demais para entender disso, é melhor eu me calar!

Você está abusando da sorte feiticeiro! Agora é melhor abrir o bico se quer continuar com pernas!!!

Tudo bem homem do norte! Eu era aluno de Adamus quando ele residia em Kheshatta7 na Stygia, ele me ensinou muito, mas não o bastante que eu gostaria, ele tinha planos de derrubar o líder do Anel negro8, o mago Thot-Amon9, pois ele possuía um artefato que o poderoso Thot-Amon buscava á décadas, era o Pergaminho de Íbis10. Esse pergaminho se bem usado, pode trazer a imortalidade, sabendo disso eu roubei o pergaminho de Adamus e o denunciei aos outros magos do Anel em troca de ensinamentos mais avançados. Adamus não foi morto, mas foi proibido de voltar á Stygia pelo resto da vida. Com seus poderes de adivinhação ele descobriu minha traição e pior, descobriu que eu ainda possuo o pergaminho, eu nunca contei á Thot-Amon e nem á ninguém sobre isso, pois sabia que seria morto, ai parti para Shadizar11, e Adamus te mandou até lá atrás de mim.

Com justa causa ele quer você bruxo! Você é um traidor dos piores!

Não seja burro, selvagem! É lógico que ele vai matar você quando chegarmos lá, ainda mais se ele descobrir que você sabe de tudo isso.

Você me contou tudo isso sabendo que ele pode descobrir não é?!, Seu traidor maldito, não deveria ter me envolvido nisso, agora vai pagar com a vida por suas traições!

Ei! Ei! Calma grandão! Pensa bem! Nós três podemos com esse desgraçado do Adamus. Fala Cyrus tentando acalmar os ânimos do bárbaro.

Chegamos lá e matamos o bruxo dos infernos, depois pegamos tudo que ele tem e vamos cada um pro seu canto e esquecemos disso, bom, pelo menos é o que eu faria.

Tudo bem zamoriano, seu plano não é dos piores, de qualquer forma eu sairia perdendo se entregasse esse traste, agora que sei o que ele carrega.

Odeio dizer isso, mas te devo uma, batedor de carteiras. Afinal qual seu nome? Pergunta Neser.

Me chamo Cyrus, e vocês dois?

Eu sou Neser-Em-Neturu12.

E eu sou Eldgrimm, e tomem cuidado com suas ações se não querem que esse seja o último nome que vocês escutarão na vida.

Depois de um plano simples e digno de um ladrão de estrada, um selvagem ganancioso e um feiticeiro louco por poder, os mais novos “associados”, continuam sua fuga pelos campos do Reino da Fronteira.

Nas escuras ruínas, Harphagus e um punhado de assustados soldados recuperam-se do combate, vários dos homens sucumbiram á selvageria maligna das criaturas, cimitarras e peitorais de aço não foram páreo para as garras e presas poderosas dos demônios. Harphagus com ferimentos superficiais só alimenta seu ódio por Eldgrimm e Cyrus, vendo seus homens caídos e dilacerados e os que sobraram em pé, assustados e feridos, o deixa mais obcecado pela captura e execução dos meliantes.

Muito bem soldados sofremos grandes perdas nessa emboscada que foi preparada por aqueles cães, mas não podemos desistir depois de chegarmos tão perto, espero que estejam prontos para continuar a caçada.

Mas senhor, somos poucos! E os que conseguem caminhar estão feridos e precisam de cuidados, eu sou um deles. Pondera um dos poucos homens que sobraram com o tenente.

Pois bem, você será o primeiro, a saber, qual é a minha resposta á esse pedido.

Nesse momento Harphagus saca sua espada e á trespassa no coração aterrorizado do homem. Todos os outros levantam-se imediatamente como se estivessem prontos para uma guerra.

Agora sim parecem soldados! Partiremos atrás deles imediatamente, e se alguém mais estiver com dúvidas sobre continuar, por favor, me avisem e eu terei prazer em ajuda-los á decidir.

Assim, mais uma vez partem em busca dos fugitivos.

Enquanto isso, os aventureiros aproximam-se de uma pequena colina, assim que chegam no topo, avistam um bosque, no centro podem ser vistas pequenas luzes, a vila não está longe.

Ainda faltam algumas horas para o sol raiar, o bosque escuro e enevoado em que o grupo passa causa calafrios, Eldgrimm sente os cabelos da nuca ouriçarem um leve arrepio cruza seus braços e fica preparado para tudo, Cyrus conhece bem as ferramentas do ofício dos ladrões, sabe bem que esse seria um lugar perfeito para uma emboscada e empunha a adaga que o bárbaro emprestou-lhe, já Neser vasculha em sua estranha bolsa, procurando por componentes mágicos apropriados para o que está em mente. Faz-se um silêncio mórbido, como se a própria noite tivesse parado para testemunhar o momento, então abruptamente saltam quatro vultos ferozes de trás das árvores em direção aos aventureiros.

Eldgrimm ergue sua vasta lâmina e com um giro por trás da cabeça, corta um dos atacantes do ombro até a cintura, rasgando-o como se fosse feito de seda, e cai ao chão sem reação alguma, Cyrus espera que seu oponente se aproxime, com a mão que está livre agarra o braço do inimigo e puxa-o de costas contra seu corpo e o degola lentamente deixando um sorriso mórbido no cadáver, enquanto á Neser, enfrenta dois de uma só vez, ele percebe que os marginais supersticiosos sobre os descendentes dos Khari13, hesitam em ataca-lo, assim ele aproveita e estende uma das mãos lançando uma espécie de poeira encontrada somente nas tumbas negras da Stygia, nos olhos desprevenidos dos assaltantes, fazendo-os gritar em desespero, Eldgrimm salta como uma pantera e decapita um deles, o golpe é tão poderoso que um dos braços que o homem esfregava em seus olhos é arrancado no processo.

Por que o matou? Ele já estava sob controle! Pergunta o atônito Cyrus.

Só precisamos de um. Responde friamente o aesir.

Ahh!! Estou cego seu porco!!!

Gritava desesperadamente o ladrão, a escuridão do bosque impedia uma análise visual completa da aparência do meliante, suas roupas eram negras e seu rosto estava mascarado, nada mais podia ser visto além de seus olhos amedrontados buscando a luz.

Se quiser enxergar novamente, é bom começar a falar seu verme, ou você não terá direto nem de ver o rosto de seu executor. Fala Neser em uma tentativa de intimidar o amaldiçoado homem.

Mas o que querem que eu diga? Não sei de nada!!

Quantos mais iguais á você encontraremos até chegar na cidade?

Apenas nós quatro agimos nessa região, somos ladrões independentes, vivemos escondidos nesse bosque á alguns anos, ninguém mais tem coragem de vir pra cá desde que o Castelo Lon foi ocupado por um velho bruxo, evitamos até mesmo de ficar muito tempo no vilarejo, pois forasteiros somem misteriosamente nas noites de lua cheia como esta. Já falei tudo que sabia agora me devolva a visão!

Bom... na verdade eu não tenho como lhe devolve-la. Quem sabe se você sobreviver até o amanhecer consiga ver novamente, eu nunca sei quanto tempo isso realmente dura. Então até logo, e tome cuidado, logo o que sobrou da Guarda de Shadizar pode passar por aqui, ou quem sabe os vingativos homens-fera parem por estas bandas. Vamos embora.

Nãããooo! Maldito, cão sarnento, traidor! Que vocês sejam engolidos pelos demônios do Castelo Lon.

Neser e os outros partem em direção ao vilarejo deixando o solitário ladrão para trás, eles caminham entre as altas e escuras árvores do bosque, apenas seguindo a pequena trilha que os leva á um destino negro e nebuloso ou de riqueza e glória.

Não demoram muito á chegar até um pequeno muro de pedras empilhadas, as ruas estreitas do vilarejo são iluminadas com postes rústicos, ninguém caminhava entre as casas simples do local, além do miliciano responsável.

Alto lá forasteiros! Adverte o guarda.

Era um homem forte e alto de barba longa e careca, usava um colete de couro simples e uma espada larga14 comum.

O que querem aqui á essa hora? Novamente se dirige ao grupo.

Só buscamos um bom lugar pra esticar as pernas e onde sirvam um bom vinho. Responde Cyrus.

Vocês não são bem vindos aqui, voltem pro buraco de onde saíram antes que eu os parta em dois! Responde com aspereza o solitário e muito corajoso guarda.

Quem você pensa que é Cão? Não me custaria nada arrancar sua cabeça e usa-la como adorno na minha sala! Responde Eldgrimm.

Assim que Eldgrimm termina de falar, os olhos do guarda emanam um fantasmagórico brilho esverdeado, e seu corpo é tomado por chamas cor de jade, sua pele torna-se cinzenta e escamosa, os atordoados aventureiros assistem a horrenda transformação, sem perder tempo o aesir empunha sua espada e salta em direção da criatura, Neser inicia seus gestos estranhos e recita palavras mágicas, Cyrus prepara sua adaga, mas permanece distante do demônio. Os fortes golpes de Eldgrimm abrem ferimentos enormes na pele da criatura, mas em segundos eles se fecham e a criatura fica intacta, as labaredas esverdeadas também impedem o rapaz de acertar golpes eficientes e o calor e as garras afiadas ferem seu corpo, Neser pede á Cyrus para que se prepare para atacar ao seu sinal, o ladrão faz um sinal positivo com a cabeça e espera o companheiro terminar sua parte no plano. Várias energias místicas envolvem o mago e sua voz tem um tom de comando em suas estranhas palavras, até que essas energias partem em direção do monstro e extinguem suas chamas infernais, assim Neser grita ao zamoriano para que ataque, devido á distância em que está, Cyrus arremessa sua adaga que voa em linha reta até a cabeça chifruda do demônio, a pequena lâmina se enterra na fronte da estranha criatura, uma substância negra escorre pelo rosto horrendo do monstro, que berra em agonia enquanto suas chamas retornam e o devoram rapidamente, segundos depois seu corpo evapora deixando um odor forte de enxofre.

Nesse momento uma gargalhada demoníaca é ouvida pelos três rapazes.

Bárbaro! Você penssssou que me enganaria? Penssssou que podia ssser melhor que eu? Idiota! Eu sssei de tudo e vejo tudo! Fala uma sinistra voz que lembrava o sibilar de uma serpente!

Nessser! Tolo ignorante! Sssubessstimasste meu poder! Fizesste a esscolha errada e vai pagar por isssso! Novamente fala a aterrorizante voz.

Estamos perdidos! Grita o covarde Cyrus.

Pois então mostre sua cara feia bruxo, já derrotei esse seu lacaio, agora é sua vez de cair!

Esssse coitado? Hahahahaha, eu nem comecei! Provem uma fagulha de meu poder!

Assim que termina de proferir suas maldições, a cidade é tomada de criaturas, das casas saem os moradores de Lucerthan, todos com morte em seus olhos, caminhavam com dificuldade e gemiam em agonia aterrorizante, facas, machadinhas e enxadas eram suas armas, vagarosamente foram cercando o grupo, Eldgrimm golpeava os mais próximos, mas com um certo receio, pois muitos deles ainda eram crianças e outros eram belas jovens recém saídas da adolescência.

E então Neser o que faremos? Não podemos com essa horda dos infernos! Pergunta Cyrus, enquanto Eldgrimm abate as criaturas que se aproximam.

Eu concordo com Cyrus! Ta na hora de pensar em algo bruxo! Fala o atarefado Eldgrimm.

Calma, eu já pensei em algo, mas vai me custar o pouco de energia mágica que me resta, mas acho que vai ser suficiente para destruí-los.

Então, Neser retira de sua bolsa um pergaminho dourado, um rolo velho e surrado, mas emanava um brilho sinistro que aparentava guardar todos os segredos do universo. O Feiticeiro estígio o abre e recita palavras ininteligíveis, sua voz ecoa por todo o vilarejo, uma luz dourada se projeta do pergaminho e flutua em direção dos Não-mortos na forma de um pássaro, uma íbis, trespassando os corpos já sem vida dos condenados moradores de Lucerthan, todos eles foram caindo um á um, sem nenhum gemido ou lamento, Eldgrimm crava sua longa espada no chão e assiste ao espetáculo de braços cruzados, enquanto Cyrus reza á Bel15 senhor dos ladrões, que o leve dali o mais rápido possível.

Malditosss! Eu messsmo cuidarei de vocêss, depoiss de tomar-lhe essse pergaminho, me tornarei imortal e maiss poderossso que Thot-Amon! Sseuss corposs vão fazer parte de minhass legiõess, mass antess vou tortura-loss até a morte com minha magia negra!

Do meio da vila surge uma sombra, se movia rapidamente entre as dezenas de corpos espalhados pelas ruas, usava um manto que lhe cobria totalmente o corpo, apenas seus olhos de luz avermelhada podiam ser percebidos na escuridão da noite. Ao se aproximar dos aventureiros, Adamus conjura um feitiço hipnótico e o direciona á Cyrus, aproveitando seu estado de choque, Cyrus salta sobre Neser com a ferocidade de um tigre, tentando retirar-lhe o pergaminho e igualmente a vida, Eldgrimm aproveita o momento de distração do mago para dar seu bote, com um rápido movimento retira sua espada do chão e á conduz até a cabeça do sombrio homem, seu golpe atinge a face do oponente com força o bastante para decepar sua cabeça e arremessa-la vários metros para trás, mas não é isso que ocorre, o mago dá alguns passos para trás devido à potência dos braços que empunham a arma mortal, mas não sofre dano algum, seu capuz cai, revelando a existência reptiliana de Adamus, seu rosto era de uma serpente estígia, um resultado de experiências demoníacas feitas durante anos em nome da maligna deusa Ishiti16.

Eldgrimm em fúria esbraveja maldições enquanto desfere golpes frenéticos contra o demônio, sem efeito algum, pois em vários momentos o mago evita os golpes se tornando intangível ou criando paredes invisíveis ao seu redor, até o momento em que se torna duro como um diamante, assim a lâmina do bárbaro é estilhaçada em pequenos pedaços que voam em todas as direções, exausto o jovem aesir para e assiste sua lâmina se espatifar.

Jovem Eldgrimm, o que essperava quando decidiu me enfrentar? Deveria ssaber que não sseria páreo para mim, eu sssou o esscolhido de Issshiti, e você é ssó maiss um macaco que ainda esstá aprendendo a sser homem! Veja sseuss amigosss, quanto tempo você acha que Nessser vai agüentar até que Cyruss o mate? Desissta agora e eu lhe darei uma morte rápida! Fala serenamente a serpente Adamus.

Eldgrimm olha para trás e vê Cyrus deitado sobre o estígio tentando esgana-lo.

Pensssou demaisss!!! Fala Adamus.

Adamus conjura palavras de morte enquanto gesticula disciplinadamente e estende sua magra e escamosa mão reptiliana na direção do peitoral definido do jovem aesir, Eldgrimm sente uma forte dor, como se seus órgãos estivessem sendo arrancados de seu corpo, até que cai de joelhos devido à atordoante dor que sente no coração.

Neser em um momento de desespero acerta um golpe com o joelho no estômago de Cyrus, fazendo-o rolar para o lado, de sua bolsa de couro cai um candelabro prateado, os olhos de Neser brilham com vivacidade, como se os deuses lhe tivessem dado uma segunda chance na vida, Cyrus volta á ataca-lo e Neser desfere um soco que nocauteia o magro ladrão, assim ele resgata o candelabro do chão e arremessa para Eldgrimm.

É nossa ultima saída! Faça o trabalho direito dessa vez! Grita Neser á Eldgrimm, enquanto o candelabro voa em uma trajetória de esperança.

Adamus olha sem entender porque um simples candelabro parece ser tão importante para Neser, mas quando se dá conta da verdade, já é tarde demais, sente a prata do objeto ultrapassando sua grossa pele e envenenando seu sangue frio. Eldgrimm usa de toda sua força para cravar as três pontas do candelabro nas vísceras da medonha criação demoníaca, que se debatia e gritava em dor e desespero, mas mesmo entre esse sofrimento o brado de Eldgrimm foi mais alto e proferiu as seguintes palavras:

Morra maldito filho de uma cadela sem nome!!!

Enquanto isso Neser fazia esforços para acordar o amigo Cyrus, o sol começava a dar o ar de sua graça nos céus, emanando suas labaredas douradas no firmamento, Eldgrimm vira-se e olha para os amigos e não é só o que ele percebe, Harphagus surge do bosque com a loucura em seus olhos, sozinho.

Finalmente te encontrei porco! Perdi um destacamento inteiro de soldados por isso, mas sei que sentir minha lâmina enterrada em suas tripas vai justificar minha perda e garantirá minha carreira! Fala o enlouquecido Tenente.

Então você não morreu chacal! Pode deixar! Dessa vez eu vou garantir que você vá para o inferno treinar um pouco com os demônios que enviei pra lá! Responde o aesir.

De um só salto, Harphagus alcança Eldgrimm e um arco prateado passa rente ao rosto exausto do jovem, com muita perícia ele esquiva as estocadas e cortes desferidos pelo exímio espadachim zamoriano, sem arma alguma nas mãos além do candelabro de prata, os olhos de Harphagus brilhavam com as chamas da vingança, dando-lhe o semblante de um demônio sedento de sangue e morte.

Cão sarnento! Fique quieto para que eu o degole como a galinha que você é! Esbravejava Harphagus.

Eldgrimm mantinha-se concentrado, pois um só passo em falso e a cimitarra de Harphagus traria a morte certa. Mas em um momento de distração de seu atacante, Eldgrimm acerta um golpe com o candelabro no rosto lunático do zamoriano, o que o deixa desnorteado e sua arma cai aos pés de Eldgrimm, o soldado da alguns passos para trás e fita os olhos do bárbaro, um certo silêncio se fez naquele momento, Harphagus sabia qual seria seu destino, fechou seus olhos e ouviu seu peitoral sendo arranhado e perfurado, logo após sentiu o toque frio do aço em seu coração, e tudo se apagou.

A Lâmina arremessada precisamente no coração transbordando de ódio de Harphagus foi o suficiente para tomar-lhe o ar da vida, Cyrus levanta-se e Neser se aproxima do bárbaro.

O que aconteceu? Como vocês derrotaram o mago? Pergunta o perdido Cyrus.

Cala boca! O que importa é que Adamus não vai mais atormentar ninguém. Responde friamente Eldgrimm, enquanto revista os bolsos de Harphagus.

Tudo bem amigos, vamos ver o que a cidade nos oferece, quem sabe um bom lugar para esticar as pernas onde sirvam um bom vinho, o que acham? Indaga Neser.

Bom quem sabe nesse lugar vocês me contem tudo então. Fala Cyrus.

Preciso de uma espada nova, esse palito de dentes do Harphagus não me agrada nem um pouco, não mataria nem os cães que vivem em Asgard, mas antes eu preciso de um lugar desses estígio, depois vamos pilhar o tesouro desse porco do Adamus.

Naquela manhã que chegava, os três aventureiros fartaram-se em ouro e jóias, e então partiram em direção ao sul, onde as promessas de riqueza eram maiores, e os perigos que vinham junto com esses tesouros serão maiores que qualquer coisa que tenham enfrentado nessa noite onde apenas iniciaram sua jornada.

Nota do autor: Esse conto se passa na Era hiboriana, mundo fictício criado por Robert E. Howard, criador de Conan, o bárbaro. Os personagens Eldgrimm, Neser e Cyrus foram criados por Rafael “Iron” Olhaberriet.

1-Povo dominante que deu nome á Era Hiboriana.
2-Proveniente do reino de Asgard.
3-Proveniente do reino da Stygia.
4-Proveniente do reino de Zamora.
5-Deus principal do panteão nórdico.
6-Espada de lâmina curva popular no oriente médio.
7-Famosa cidade dos magos da Stygia.
8-Poderosa organização de Sacerdotes de Set a serpente. Set é a divindade principal na Stygia.
9-Mago estígio mais poderoso da Era hiboriana, Líder do Anel negro.
10-Divindade opositora á Set a serpente.
11-Capital do reino de Zamora.
12-Fogo dos Deuses, na linguagem estígia.
13-Povo ancestral dos estígios modernos.
14-Arma predileta na era hiboriana.
15-Divindade zamoriana dedicada aos ladrões.
16-Divindade que faz parte do panteão negro de Set.

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