FÚRIA PARANÓICA
FÚRIA PRANÓICA
Autor: Linx
Aquilo havia ficado insustentável, estava me sentido cada dia mais atormentado, cada dia pior. Meu corpo sentia já os reflexos desse tormento, minha mente era um completo caos e tudo em que pensava era em seu próximo passo, como ela faria para novamente voltar a me atormentar. Me sentia enjaulado, numa jaula invisível, que me sufocava, me matava aos poucos, me tornava insano. Não sei agora se posso afirmar o que é real, o que não é, se tudo é real ou se tudo não passa de farsa, não sei, juro que tento, mas não sei como. Meu pensamento é interrompido pelo telefone tocando, estridente. O som penetrava no meu cérebro e a luta para não atendê-lo era inútil, devia tê-lo desligado. Até aquele som me irritava, me fazia perder o razão. Caminhei a passos largos até ele e o puxei do gancho com toda força.
— Quem é? — Minhas mãos tremiam e uma fúria já me consumia.
— Por que demorou a atender? O que estava fazendo?
Aquele voz! Por que? Desgraçada, era ela!
— Como me achou aqui maldita?!
— Achando, não é importante como.
— O que você quer, sua maldita?! Gritei o mais alto que podia.
— Eu só liguei para saber como estava, não precisa me tratar assim. Pude ouvir do outro lado um som leve de choro.
— Me deixe em paz. Para de me atormentar! Eu gritava como louco e meus pensamentos se resumiam em ver-me apertando-lhe o pescoço, vendo seu rosto perder a cor e sua vida se esvair nas minhas mãos.
— Por que me trata assim? Ela chorava do outro lado. Mas eu sabia que não passava de um choro falso. Mas ela não iria me comover, não daria certo dessa vez.
— Não me ligue mais, sua vagabunda! Eu te odeio! — Sentia todo meu corpo tremer, era como se minhas forças fossem sumindo de repente.
— Sei que não quer me dizer isso. Sei que está descontando em mim seu sofrimento. Eu só quero te ajudar.
— Você não quer me ajudar porra nenhuma. Quer me atormentar! Quer me ver morrer aos poucos!
— Não fale assim.
— Me deixe viver em paz!
— Eu vou aí te ver, estou aí perto.
— Me deixe! Some da minha vida!
— Estou indo.
Tentei dar um ultimo grito, mas esse foi em vão, pois ela desligou do outro lado. Meu coração batia rápido, minha mente estava a mil, sentia meu corpo todo fraquejar, era como se perdesse minha força de vida aos poucos. Ela viria! Ela viria, voltaria aqui na minha casa, voltaria a me atormentar...
“A quem ler isso...
Não sei o que fazer, estou perdido, é como ter perdido o chão. Não vou agüentar ela aqui de novo! Não vou! “Por que?” deve estar se perguntando. “Por que todo esse ódio?” Sinceramente não sei sua origem, só sei que, cada dia que passa, eu a odeio mais, com todas as minhas forças.
A alguns anos conheci B., uma garota simples, nem bonita, nem feia, num lugar que hoje não vem ao caso. No primeiro momento que a vi, nem mesmo tentei ficar ao seu lado, pois algo nela me irritava profundamente, mas ela... bem ela foi a única ali a se sentar do meu lado e a conversar comigo, pois minha fama por aqueles lugares era de um doente, um louco. Ela disse que não se importava com que os outros falavam e que tinha fé em mim. Dali surgiu, de acordo com ela. uma grande amizade, mas para mim o maior dos meus pesadelos. Ela passou a me ligar, a me seguir, a ir a onde eu fosse, me acompanhar não importava onde eu estava. Em todos os lugares que eu ia, ela estava lá; todo os dias ela me ligava, tagalerando todas suas inutilidades em meus ouvidos. Aquilo era sufocante, me tornara um paranóico, em minha mente só pensava quando ela voltaria, e, pior, sempre sabia que era logo. Até o dia em que perdi o controle. Um dia em que ela surgiu, gritei a todos que a odiava e que não mais a queria perto de mim. Mesmo assim aquilo não a impediu e acho que depois disso ela passou a me atormentar mais do que antes. Não saía mais na rua, desliguei meu telefone, mas ela ia todos os dias bater em minha porta, alguns dias ia mais de uma vez, ficava ali um tempo, e eu, quieto, tentando fazê-la ir. Decidi fugir dali, juntando tudo que me restava e indo ao lugar mais afastado que pude conseguir. Mas ela me achou, não sei como ela me achou e está vindo. Novamente repito: não sei o que irá acontecer, mas aqui tento deixar...
— T., abre essa porta por favor.
Droga, como ela chegara tão rápido? Maldita desgraçada!
— Abre... — sua voz era chorosa. — Por favor, deixe-me vê-lo.
Sentei longe da porta, fazendo um silencio absoluto. Não ia atender e ela iria embora. Não! Ela não vai e, se ela for, ela vai voltar. Não consigo me livrar dela, ela vai me seguir para sempre até o fim da minha vida. O barulho das batidas na porta e seus soluços chorosos pareciam me matar lentamente. A fúria dentro de mim aumentava, cada vez mais, eu estava perdendo o pouco de sanidade que me restava, até que não mais pude agüentar aquilo, corri até a porta e segurei a maçaneta por um tempo até puxa-la com toda a força.
— O que você quer? Eu chorava agora, chorava de ódio de ver aquele rosto infernal ali parado, me olhando,
— Eu...
Sua frase foi interrompida por minhas mãos a sufocando. Apertava seu pescoço numa fúria cega, meus olhos não viam mais nada, só queria sentir seu pescoço nas minhas mãos, sua respiração passando dificultada por sua traquéia,
— Pare, por favor... — ela falava com dificuldade,
— Desgraçada! Saia da minha vida!
— Ah...
Apertei com mais força que antes, mas já não era necessário, pois ela já desfalecera na minha frente. Soltei seu pescoço e deixei-a escorregar até bater seca no chão.
— Morta... eu ria meio que sem motivo, insanamente. Seu corpo estendido ali no chão, a liberdade. Nunca mais ela me atormentaria de novo!
Empurrei com o pé aquele corpo para fora e entrei dentro de casa. A sensação, um misto de sadismo com alegria insana, era delirante, extremamente reconfortante. Caminhei sorrindo até a cozinha e tomei nas mãos um copo de água gelada de dentro da geladeira. Senti aquele líquido, descer pela minha garganta. Era apenas água, mas agora parecia um vinho das melhores safras do mundo. Mas antes de terminar meu copo, senti meu coração bater muito rápido. O que estava acontecendo? Uma dor invadiu meu ser, era insuportável e nem me permitia ficar em pé. Minha vista ficava nublada, meu corpo perdia as forças. Caí deitado e ali fiquei por um tempo até tudo se apagar...
Abri os olhos devagar, minha visão ainda nublada, vi-me deitado em minha cama. Tentei me levantar, mas não conseguia me mexer, nem mesmo minha cabeça respondia meus comandos. Ao meu lado, alguém me olhava sentado numa poltrona, com um copo de água na mão. Senti que ele se aproximou e levou o copo à minha boca.
— Beba...
Deus! Não pode ser! Essa voz maldita!
— Não se preocupe, vou cuidar de você... para sempre!
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