A RELÍQUIA
A RELÍQUIA
Autora: Andreia Santos
A Relíquia
O espelho era oval. Tinha uma moldura de prata onde se podia ver monstros marinhos e sereias entrelaçados numa dança sem fim.
Estava colocado por cima de um tocador de madeira trabalhada igualmente com motivos marinhos.
Naquele momento reflectia a ocupante da grande cama de dossel. Do alto caiam grandes cortinas de um vermelho translúcido deixando entrever a mulher que estava deitada em pesados lençóis escuros. Era pequena de feições miúdas. O longo cabelo estava espalhado nas almofadas caindo para o chão, era tão loiro que parecia branco. Os olhos que agora se encontravam cerrados eram cinzentos. A camisa de noite branca dava-lhe um aspecto fantasmagórico, no meio da decoração escura do quarto.
A superfície lisa do espelho modificou-se de repente, deixando de reflectir o quarto, via-se agora um torvelinho de espirais escuras que de tempos a tempos era atravessado por raios luminosos. Lilande abriu os olhos, levando-se e dirigido-se imediatamente para o estranho espelho como se tivesse recebido qualquer tipo de aviso durante o sono. Sentindo a sua aproximação a imagem alterou-se imediatamente – um punhal antigo surgiu no espelho. Pequeno, com o cabo curto onde se podia ver duas cobras entrelaçadas cujas bocas na extremidade do punho, sustentavam uma grande pedra vermelha. Onde? Sussurrou ela – a imagem alterou-se passando a mostrar um forte á beira rio. Com um grito de triunfo voltou-se com a camisa a ondular atrás de si, colocou uma capa preta sobre o ombros e saiu de casa.
Apoiada descontraidamente numa arvore ela esperava. Conseguia ver o vale que se entendia na noite sem luz. Era lua nova. O forte de pedra placidamente junto do rio; ás vezes conseguia vislumbrar as patrulhas no alto da muralha. Uma rajada de vento envolveu-a num mar de tecido e cabelos, como se fosse o sinal por que tinha esperado, endireitou-se, jogou o capuz para trás deixando o longo cabelo á mercê da ventania, levantou os braços fazendo com que as largas mangas se agitassem atras de si dado a ilusão de serem grandes asas. De braços e rosto voltados para o céu um longo murmúrio escapa-lhe por entre os lábios entreabertos. A sua voz vai subindo de tom até praticamente gritar.
No cima da muralha os homens sentiram um arrepio frio descer-lhes pela espinha. Alguns fintaram o céu de sobrolho franzido; parecia que a noite se tinha tornado ainda mais escura....
Moveu-se com uma rapidez assustadora. A capa ondulava atras de si á medida que atravessava o vale em direcção ao forte. Um dos homens teve a sensação de ter visto alguma coisa, mas quando voltou a olhar não conseguiu ver nada na escuridão. Uma sombra, nada mais. Chegada á parede de pedra parou por momentos. As mãos de longos dedos brancos pareciam acariciar a pedra. Primeiro uma mão, depois a outra e começou a escalar a parede lisa sem dificuldade aparente como um enorme morcego.
Ao chegar ao cimo uma janela abriu-se sem ajuda e Lilande entrou, caindo no chão suavemente sem fazer nenhum som. Estava numa sala circular mesmo no cimo da torre. O chão estava revestido por um espesso tapete c motivo circulares da cor do fogo. Uma lareira onde cabia um homem de pé, estava vivamente acesa, no centro da sala havia uma pesada mesa de madeira onde se via um estojo negro subcomprido - Os olhos cinzentos de Lilande adquiriram um estranho brilho dourado ao passarem por ele. Voou na direcção da mesa mas ao tocar no estojo este desapareceu numa nuvem de fumo.
As gargalhadas que encheram a sala vinham de uma porta que ainda não tinha visto. Na soleira estava uma mulher contorcida de riso. As gargalhadas apesar de cheias deixavam entender um misto de escárnio e maledicência.
Quando finalmente se endireitou e fintou Lilande o cinzento e o verde encontraram-se, observado-se mutuamente como dois adversários no campo de batalha.
Que achaste da minha pequena partida? Eu tinha a certeza que vinhas. Sabia que aquele teu espelho te avisava. Quando te matar é a primeira coisa que vou buscar... – os olhos verdes brilharam de satisfação
Onde está o punhal?
Guardado. Onde tu nunca poderás meter-lhe as tuas mãos nojentas em cima.
Está com o príncipe? O senhor do forte que tu andas a enganar? Diz-me Arianna, ele sabe quem tu es, o que tu es?- os olhos verdes tornaram a brilhar, mas desta vez de fúria.
Atreve-te a tocar-lhe num cabelo e juro que te faço pagar!!
O riso de Lilande assemelhava-se ao som de um espanta espíritos.
Dá-me punhal e vamos acabar com isto! Não estou com paciência para ao teus joguinhos. Dito isto impulsionou-se através da sala com as mãos esticadas em direcção á garganta de Arianna com uma expressão horripilante no rosto que a fez parecer uma ave de rapina. Dando uma volta sobre si mesma Arianna desapareceu da soleira da porta para surgir na outra ponta da sala. Lilande uivou e voltou o rosto na sua direcção! O punhal, maldita! AGORAAAA!!
As duas mulheres correram ao encontro uma da outra e quando se alcançaram foi um choque de titãs. As muralhas de pedra estremeceram até aos alicerces. Com uma agilidade sobrenatural as duas mulheres saltavam, rodopiavam, atacavam e esquivavam-se dos ataques mútuos. Por vezes o poder era tanto que quase se conseguia ver o ar tremeluzir quando alguma delas lançava um feitiço mais forte. Parecia que nenhuma era mais forte que a outra... ate que a meio de um ataque Lilande desapareceu. Mostra-te! – rosnou Arianna. Olhando desesperadamente em redor da sala, viu a janela abrir devagar e a escuridão a entrar: Vagas e vagas de escuridão rolaram para entro da sala até que depressa não conseguia ver nada. Ouviu algures o riso cristalino de Lilande. Agora estamos no meu elemento bruxa! Quero ver como te sais!
Arianna sabia que não a ia vencer na escuridão. Liliande era a Senhora das Trevas enquanto que ela comandava as águas, e no cimo da torre não se podia valer desse poder. Tinha de alcançar a portas, tinha de descer o suficiente para poder alcançar o leito do rio. Ao dar um passo atras embateu contra a mesa, baixou-se e ficou debaixo dela esperando. Conseguia distinguir o roçar no vestido da outra mulher á medida que ela se aproximava ; quando a sentiu mais perto levantou as mãos em concha á altura do rosto e soprou, de imediato surgiu uma chama azulada, fogo-fátuo. O mais depressa que conseguiu correu em direcção á porta, estava já a atravessa-la quando sentiu as unhas a cravarem-se no ombro, sacudiu a mão da outra mulher e continuou a correr.
O vestido atrapalhava-a e as trevas continuavam a persegui-la pelas escadas abaixo , tropeçou nos últimos degraus ficando de bruços no chão, tentou levantar-se mas sentiu que algo a aprisionava contra o chão.
Lilande descia as escadas calmamente, envolta em nuvens escuras. Parou por momentos na base da escadaria olhando a adversaria presa... sorriu.
Agora vais pagar por todos estes anos que estive presa! Todos os anos em que mantiveste o punhal magico fora do meu alcance. Todos os anos em que me impediste de ser a mais poderosa!! E tudo para dares o poder a um homem! E mortal!!!
Inclinou-se na direcção da prisioneira. Os dedos brancos e frios acariciaram a face morena afastado os densos caracóis dos olhos verdes - Podias ter sido tão poderosa Senhora da agua... bastava teres-te joelhado perante mim....
O movimento de Arianna foi tão rápido que Lilande nunca o viu. De repente uma das mãos soltou-se e nela apareceu um punhal curto, com uma enorme pedra vermelha, que Arianna enterrou no peito da Senhora da Escuridão.
Assim que a mulher loira caiu Arianna sentiu-se livre. Afastando o cadáver de cima de si levantou-se. Ficou parada, de pé, com os braços caídos ao longo do corpo fintando o corpo inerte da outra. Uma lagrima solitária caiu-lhe pela face ao mesmo tempo que um gota de sangue caia do punhal que continuava na sua mão.
Arianna?- perguntou uma voz doce. Á porta do hall estava Mab, a pequena irmã do senhor do forte. Que aconteceu? Quem é? – perguntou apontando para Lilande caída. Alguém que se perdeu nas trevas... – outra lagrima atravessou a sua face. Sentiu o peso da mão pequenina e quente no seu ombro. Não estejas triste Arianna. Ela já estava perdida há muito tempo. Lilande já não era uma de nos...
Os olhos verdes arregalaram-se, como sabes?
Como sei o quê? – perguntou a criança.
O nome dela! Como sabes que se chamava Lilande?
O sorriso que nasceu no rosto da pequeno foi quente e tão rasgado que reduziu os grandes olhos negros a fendas. Aproximou de Arianna, abraçando- a. Não es só tu que tens um segredo Senhora da Agua – cantarolou-lhe ao ouvido.
De repente foi como se estivesse a pegar fogo por dentro, as dores insuportáveis, mas perante o olhar fixo da criança não conseguia gritar por ajuda.
Mab sentou-se numa cadeira próxima da lareira, que á sua aproximação se avivou como se tivesse sido atingida por um jacto de petróleo, ficando a observar a mulher mais velha a ser consumida por chamas interiores, até não restar mais do que um cadáver retorcido e fumegante.
O espelho oval, pendurado num parede distante, mais uma vez não reflectia o quarto. Na sua superfície podia ver-se uma menina, que aparentava não mais de 12 anos, com os cabelos ruivos brilhantes dançando em volta de um rosto angelical.
Os olhos já não eram negros, mas de uma estranha tonalidade avermelhada, ou talvez fossem só os reflexos das chamas. As mãos pousadas no colo brincavam com um estranho punhal.
Espelho meu, espelho meu, quem é a senhora mais poderosa que eu? – cantarolou.
Aquela que guarda o punhal magico. Es tu a mais poderosa, Senhora do Fogo – respondeu-lhe um murmúrio....
FIM
Autora: Andreia Santos
A Relíquia
O espelho era oval. Tinha uma moldura de prata onde se podia ver monstros marinhos e sereias entrelaçados numa dança sem fim.
Estava colocado por cima de um tocador de madeira trabalhada igualmente com motivos marinhos.
Naquele momento reflectia a ocupante da grande cama de dossel. Do alto caiam grandes cortinas de um vermelho translúcido deixando entrever a mulher que estava deitada em pesados lençóis escuros. Era pequena de feições miúdas. O longo cabelo estava espalhado nas almofadas caindo para o chão, era tão loiro que parecia branco. Os olhos que agora se encontravam cerrados eram cinzentos. A camisa de noite branca dava-lhe um aspecto fantasmagórico, no meio da decoração escura do quarto.
A superfície lisa do espelho modificou-se de repente, deixando de reflectir o quarto, via-se agora um torvelinho de espirais escuras que de tempos a tempos era atravessado por raios luminosos. Lilande abriu os olhos, levando-se e dirigido-se imediatamente para o estranho espelho como se tivesse recebido qualquer tipo de aviso durante o sono. Sentindo a sua aproximação a imagem alterou-se imediatamente – um punhal antigo surgiu no espelho. Pequeno, com o cabo curto onde se podia ver duas cobras entrelaçadas cujas bocas na extremidade do punho, sustentavam uma grande pedra vermelha. Onde? Sussurrou ela – a imagem alterou-se passando a mostrar um forte á beira rio. Com um grito de triunfo voltou-se com a camisa a ondular atrás de si, colocou uma capa preta sobre o ombros e saiu de casa.
Apoiada descontraidamente numa arvore ela esperava. Conseguia ver o vale que se entendia na noite sem luz. Era lua nova. O forte de pedra placidamente junto do rio; ás vezes conseguia vislumbrar as patrulhas no alto da muralha. Uma rajada de vento envolveu-a num mar de tecido e cabelos, como se fosse o sinal por que tinha esperado, endireitou-se, jogou o capuz para trás deixando o longo cabelo á mercê da ventania, levantou os braços fazendo com que as largas mangas se agitassem atras de si dado a ilusão de serem grandes asas. De braços e rosto voltados para o céu um longo murmúrio escapa-lhe por entre os lábios entreabertos. A sua voz vai subindo de tom até praticamente gritar.
No cima da muralha os homens sentiram um arrepio frio descer-lhes pela espinha. Alguns fintaram o céu de sobrolho franzido; parecia que a noite se tinha tornado ainda mais escura....
Moveu-se com uma rapidez assustadora. A capa ondulava atras de si á medida que atravessava o vale em direcção ao forte. Um dos homens teve a sensação de ter visto alguma coisa, mas quando voltou a olhar não conseguiu ver nada na escuridão. Uma sombra, nada mais. Chegada á parede de pedra parou por momentos. As mãos de longos dedos brancos pareciam acariciar a pedra. Primeiro uma mão, depois a outra e começou a escalar a parede lisa sem dificuldade aparente como um enorme morcego.
Ao chegar ao cimo uma janela abriu-se sem ajuda e Lilande entrou, caindo no chão suavemente sem fazer nenhum som. Estava numa sala circular mesmo no cimo da torre. O chão estava revestido por um espesso tapete c motivo circulares da cor do fogo. Uma lareira onde cabia um homem de pé, estava vivamente acesa, no centro da sala havia uma pesada mesa de madeira onde se via um estojo negro subcomprido - Os olhos cinzentos de Lilande adquiriram um estranho brilho dourado ao passarem por ele. Voou na direcção da mesa mas ao tocar no estojo este desapareceu numa nuvem de fumo.
As gargalhadas que encheram a sala vinham de uma porta que ainda não tinha visto. Na soleira estava uma mulher contorcida de riso. As gargalhadas apesar de cheias deixavam entender um misto de escárnio e maledicência.
Quando finalmente se endireitou e fintou Lilande o cinzento e o verde encontraram-se, observado-se mutuamente como dois adversários no campo de batalha.
Que achaste da minha pequena partida? Eu tinha a certeza que vinhas. Sabia que aquele teu espelho te avisava. Quando te matar é a primeira coisa que vou buscar... – os olhos verdes brilharam de satisfação
Onde está o punhal?
Guardado. Onde tu nunca poderás meter-lhe as tuas mãos nojentas em cima.
Está com o príncipe? O senhor do forte que tu andas a enganar? Diz-me Arianna, ele sabe quem tu es, o que tu es?- os olhos verdes tornaram a brilhar, mas desta vez de fúria.
Atreve-te a tocar-lhe num cabelo e juro que te faço pagar!!
O riso de Lilande assemelhava-se ao som de um espanta espíritos.
Dá-me punhal e vamos acabar com isto! Não estou com paciência para ao teus joguinhos. Dito isto impulsionou-se através da sala com as mãos esticadas em direcção á garganta de Arianna com uma expressão horripilante no rosto que a fez parecer uma ave de rapina. Dando uma volta sobre si mesma Arianna desapareceu da soleira da porta para surgir na outra ponta da sala. Lilande uivou e voltou o rosto na sua direcção! O punhal, maldita! AGORAAAA!!
As duas mulheres correram ao encontro uma da outra e quando se alcançaram foi um choque de titãs. As muralhas de pedra estremeceram até aos alicerces. Com uma agilidade sobrenatural as duas mulheres saltavam, rodopiavam, atacavam e esquivavam-se dos ataques mútuos. Por vezes o poder era tanto que quase se conseguia ver o ar tremeluzir quando alguma delas lançava um feitiço mais forte. Parecia que nenhuma era mais forte que a outra... ate que a meio de um ataque Lilande desapareceu. Mostra-te! – rosnou Arianna. Olhando desesperadamente em redor da sala, viu a janela abrir devagar e a escuridão a entrar: Vagas e vagas de escuridão rolaram para entro da sala até que depressa não conseguia ver nada. Ouviu algures o riso cristalino de Lilande. Agora estamos no meu elemento bruxa! Quero ver como te sais!
Arianna sabia que não a ia vencer na escuridão. Liliande era a Senhora das Trevas enquanto que ela comandava as águas, e no cimo da torre não se podia valer desse poder. Tinha de alcançar a portas, tinha de descer o suficiente para poder alcançar o leito do rio. Ao dar um passo atras embateu contra a mesa, baixou-se e ficou debaixo dela esperando. Conseguia distinguir o roçar no vestido da outra mulher á medida que ela se aproximava ; quando a sentiu mais perto levantou as mãos em concha á altura do rosto e soprou, de imediato surgiu uma chama azulada, fogo-fátuo. O mais depressa que conseguiu correu em direcção á porta, estava já a atravessa-la quando sentiu as unhas a cravarem-se no ombro, sacudiu a mão da outra mulher e continuou a correr.
O vestido atrapalhava-a e as trevas continuavam a persegui-la pelas escadas abaixo , tropeçou nos últimos degraus ficando de bruços no chão, tentou levantar-se mas sentiu que algo a aprisionava contra o chão.
Lilande descia as escadas calmamente, envolta em nuvens escuras. Parou por momentos na base da escadaria olhando a adversaria presa... sorriu.
Agora vais pagar por todos estes anos que estive presa! Todos os anos em que mantiveste o punhal magico fora do meu alcance. Todos os anos em que me impediste de ser a mais poderosa!! E tudo para dares o poder a um homem! E mortal!!!
Inclinou-se na direcção da prisioneira. Os dedos brancos e frios acariciaram a face morena afastado os densos caracóis dos olhos verdes - Podias ter sido tão poderosa Senhora da agua... bastava teres-te joelhado perante mim....
O movimento de Arianna foi tão rápido que Lilande nunca o viu. De repente uma das mãos soltou-se e nela apareceu um punhal curto, com uma enorme pedra vermelha, que Arianna enterrou no peito da Senhora da Escuridão.
Assim que a mulher loira caiu Arianna sentiu-se livre. Afastando o cadáver de cima de si levantou-se. Ficou parada, de pé, com os braços caídos ao longo do corpo fintando o corpo inerte da outra. Uma lagrima solitária caiu-lhe pela face ao mesmo tempo que um gota de sangue caia do punhal que continuava na sua mão.
Arianna?- perguntou uma voz doce. Á porta do hall estava Mab, a pequena irmã do senhor do forte. Que aconteceu? Quem é? – perguntou apontando para Lilande caída. Alguém que se perdeu nas trevas... – outra lagrima atravessou a sua face. Sentiu o peso da mão pequenina e quente no seu ombro. Não estejas triste Arianna. Ela já estava perdida há muito tempo. Lilande já não era uma de nos...
Os olhos verdes arregalaram-se, como sabes?
Como sei o quê? – perguntou a criança.
O nome dela! Como sabes que se chamava Lilande?
O sorriso que nasceu no rosto da pequeno foi quente e tão rasgado que reduziu os grandes olhos negros a fendas. Aproximou de Arianna, abraçando- a. Não es só tu que tens um segredo Senhora da Agua – cantarolou-lhe ao ouvido.
De repente foi como se estivesse a pegar fogo por dentro, as dores insuportáveis, mas perante o olhar fixo da criança não conseguia gritar por ajuda.
Mab sentou-se numa cadeira próxima da lareira, que á sua aproximação se avivou como se tivesse sido atingida por um jacto de petróleo, ficando a observar a mulher mais velha a ser consumida por chamas interiores, até não restar mais do que um cadáver retorcido e fumegante.
O espelho oval, pendurado num parede distante, mais uma vez não reflectia o quarto. Na sua superfície podia ver-se uma menina, que aparentava não mais de 12 anos, com os cabelos ruivos brilhantes dançando em volta de um rosto angelical.
Os olhos já não eram negros, mas de uma estranha tonalidade avermelhada, ou talvez fossem só os reflexos das chamas. As mãos pousadas no colo brincavam com um estranho punhal.
Espelho meu, espelho meu, quem é a senhora mais poderosa que eu? – cantarolou.
Aquela que guarda o punhal magico. Es tu a mais poderosa, Senhora do Fogo – respondeu-lhe um murmúrio....
FIM
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