O NOIVO

O NOIVO

Autora: Rvania






Era mês de junho. Mês das chuvas, das festas juninas, comidas de milho, quadrilha, forró, fogueiras e, principalmente, mês do Santo casamenteiro.

Como toda moça solteira, Ana sonhava encontrar seu príncipe encantado. Curiosa, resolveu fazer uma das muitas adivinhações que conhecia através de amigas e de sites que vasculhava na internet. Uma delas chamou sua atenção e aguçou sua curiosidade, pois dizia que em sonho a moça veria o rosto de sua alma gêmea, aquele que seria seu futuro marido.

Ora! Entre conhecer a primeira letra do nome, enfiando a faca na bananeira, descobrir o nome, jogando a moeda na fogueira e ver o rosto do amado, havia uma diferença sem fim! Resolveu sonhar com seu amado.

Seguiu todas os passos ensinados no site: Na véspera do dia de Santo Antônio, armou um pequeno altar coberto com uma toalha branca em seu quarto. Sobre ele colocou um prato, uma taça e talheres nunca antes usados. A partir do café da manhã, colocou nesse prato um pouco de tudo o que comeu durante o dia e, no copo, um pouco da água que bebeu. Bem antes da meia-noite, vestiu uma túnica branca, fez uma oração em que oferecia ao seu futuro marido aquele jantar e pedia para vê-lo em sonho. Após todo esse ritual, deitou e dormiu.

Foi acordada no meio da noite por um barulho estranho... como se alguma coisa grande estivesse se arrastando em seu quarto. Ficou assustada imaginando que pudesse ser algum rato, atraído pela comida. E o barulho perturbador continuou. Um tanto irritada, Ana pensou: - “essa droga de rato está atrapalhando meu sono, preciso dormir pra sonhar com meu amado!”


Foi quando começou a perceber também um cheiro esquisito, ou melhor, um fedor acre, de coisa podre.

Enchendo-se de coragem, Ana pensou: - “preciso me livrar desse maldito rato! E sentou-se na cama, tateando o interruptor do abajur. Quando o encontrou e pressionou, uma luz tênue iluminou o quarto e ela vasculhou com o olhar, tentando ver o rato. Porém, o que os olhos de Ana viram foi uma estranha criatura que, apoiada nas mãos, arrastava o resto do corpo e o par de pernas mortas pelo chão. A coisa era horrenda, uma massa de carne com braços, pernas e algo que parecia uma cabeça, onde havia um par de olhos vermelhos e esbugalhados e uma abertura similar a uma boca, de onde saiam dentes tortos e grandes. Sua pele era marrom e grossa, parecida com a de um sapo.


A criatura, parando de se arrastar por alguns instantes, olhou bem nos olhos dela, fez um arremedo de sorriso e com uma voz grutural sussurrou:


- Vim para o jantar que você me preparou...

Desesperada de terror, Ana não conseguiu emitir nem um som, pois sua garganta estava fechada pelo medo. Apenas conseguiu reunir um restinho de forças para voltar a deitar e cobrir-se da cabeça aos pés. Sob o lençol, com os olhos tão cerrados que chegava a doer, ainda ouviu a coisa reclamar:


-Por que você não me ajuda a chegar até a mesa? Vem comigo...


E o som de arrastado continuou e continuou... pouco a pouco, aproximando-se de onde estava a mesa. Pouco depois, o som foi trocado pelo som de louças e talheres batendo... em seu torpor, ela imaginou que ele havia chegado até a mesa. Depois, um som terrível de mastigado, como um animal esfomeado, comendo e bebendo... Ana não suportou mais e adormeceu. Ou, quem sabe, desmaiou.

Ao abrir novamente os olhos, já era dia. Ao lembrar do ocorrido, Ana teve dificuldade para sair de debaixo dos lençóis, com medo de encontrar novamente aquela coisa. Aos poucos foi descobrindo o rosto, olhando por uma brechinha do lençol. Ao ver que não havia ninguém no quarto, sentiu uma alívio e até mesmo vontade de sorrir... tinha sido apenas um terrível pesadelo. Espreguiçou-se e pensou que não havia sido nada agradável ter um sonhou daqueles. Ao levantar-se da cama e por os pés no chão, pisou em algo gosmento, ao mesmo tempo em que distinguiu um cheiro de podre no ar. Ao olhar pro chão, viu um rastro de uma cor meio indefinida, um tom marrom-esverdeado e gosmento que ia da porta de seu quarto até a mesinha com o “jantar” que havia preparado pro futuro noivo. E na mesinha, mas daquela gosma e resto de comida espalhada pela mesa e pelo chão, como se tivesse sido fuçada por um porco.

Com um calafrio na espinha, Ana caiu outra vez sentada na cama. Não fora sonho, seu futuro noivo realmente tinha vindo pro jantar...

FIM

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