A CASA DOS HORRORES (Conto)
Autor: Orfeu Brocco
Eu desembarquei do ônibus e o frio estava a arrepiar minha pele debaixo da jaqueta de couro, senti uma nostalgia ferrenha dominar meu coração,chamei por meu amigo Atanael que me esperava,ele não demorou, a moto estacionou e eu subi conversando pouco sentindo o vento cortar minha face.
Durante a trajetória comecei a reparar por todos aqueles lugares já conhecidos, muitas lembranças vieram a tona,até que a moto chegou ao nosso destino.
Fiquei em um dos quartos,deixei minhas coisas na mochila e acendi um cigarro me perguntando : “Como será que estão todos ?”,o vento bateu nas portas levadiças fazendo-as tremerem,senti um calafrio e me deitei.
O sono demorou para vir,logo que adormeci comecei a sonhar.
Estava andando pelos cômodos de minha antiga casa,as paredes cheias de lodo pareciam respirar,o chão estava sujo e molhado,havia um cheiro forte no ar,era como se eu estivesse dentro de um esgoto.
Enquanto eu andava os corredores iam sumindo,até que cheguei ao meu antigo quarto,ao entrar a porta desapareceu haviam muitos símbolos e frases incompreensíveis riscadas na parede, um imenso espelho jazia na parede, brinquedos jogados no chão pareciam terem sido esmagados,o fedor aumentava cada vez mais, meu estomago começou a embrulhar, me encostei na parede para evitar que caísse,mas sangue começou a molhar minhas mãos e quando fui perceber as paredes haviam se tornado revestidas de carcaças humanas,somente o espelho continuava no mesmo lugar,eu me aproximei dele e apoiei minhas mãos sujas tentando buscar uma saída, o cheiro estava insuportável,e quando tentei usar as mãos para tampar o nariz, o reflexo no espelho começou a rir e me perguntou:
____O que foi Humbert?Não gostou de rever nossa velha casa?___eu comecei a vomitar sobre o espelho e uma mão invisível me empurrou contra as paredes e levitou meu corpo o prendendo no teto,eu tentei gritar, mas cada vez que eu abria minha boca,carne podre saia de minha garganta e caia no chão,as paredes começaram a me engolir e quando apenas sobrava uma das mãos para fora eu ouvi meu relexo murmurar.___O bom filho à casa retorna, afinal você pertence a esse lugar não é mesmo?___E então a parede me engoliu.
Acordei desesperado, Atanael estava em minha frente,eu estava enrolado nos cobertores, ele acendeu a luz e disse:
___Boa tarde Bela Adormecida!___ele sorriu para mim.
___Boa tarde Atanael !Nossa dormi tanto assim?___fiquei sem graça e nem sai debaixo dos cobertores, estava muito frio.
Conversamos um pouco e ele saiu,iria comprar algo para comermos,enrolei um pouco me revirando na cama,mas quando saí me assustei,pois minhas mãos estavam repletas de sangue.
Fui tomar banho e após passar o susto decidi andar pelo velho bairro, poucas coisas haviam mudado,o velho trailer onde se faziam lanches estava no mesmo lugar, os mesmos bêbados decadentes aos quais eu prestava minha solidariedade, enchendo a cara junto com eles,lógico, as mesmas casas,alguns rostos mais envelhecidos,enfim,não havia nada diferente que pudesse me impressionar.
Encontrei velhos amigos pela rua e conversei rapidamente com eles,eu já tinha um destino a seguir e fui rever meu velho amigo Dannyel,ao chegar em sua casa o chamei,ele não estava,conversei um pouco com a irmã dele e fui embora,decidi que voltaria depois,não tenho muita paciência para esperar.
Comprei um maço de cigarros do Paraguai e comecei a ter uma crise de risos lembrando de minha cunhada que dizia: “Nossa meu terror é ir novamente até a cidade do Humbert e ficar sem meu Malboro,fumando veneno de rato!”, caminhei até a casa de Atanael e almocei,logo depois avisados pela avó de Dannyel,quatro amigos vieram ao meu encontro,Diego,Apolônio,Evandro e o próprio Dannyel.
___E aí cara!Quanto tempo em, finalmente lembrou-se dos seus amigos pobres da velha Humbertlândia!
Vamos fazer agora uma pequena pausa neste relato para uma explicação:
Não sou nenhum egocêntrico (isso foi a maior mentira que eu já contei), mas minha cidade não tem esse nome graças a meus fatos homéricos que a mancharam de orgulho (além do mais porque não fiz porra nenhuma),o nome dessa cidade se deve ao seu suposto fundador o alemão Humbert Von Gotterdan.
Voltando ...
___Imagine se eu enriqueci!Sou um escritor fracassado,que está procurando ideias novas e tentando esfriar a cabeça!__eu disse a Apolônio,o eterno e inconsertável rapaz tímido.
___Nossa mas você sempre foi talentoso para escrever!__disse Dannyel.
___Diga isso para aqueles editores filhos da puta que não devem nem saber com qual mão se masturbam!___o riso foi geral e começamos a andar,descemos a rua contemplando o maravilhoso por-do-sol que não vemos nas grandes cidades como São Paulo (meu covil atualmente).
Andamos pelo formoso bairro chamado Cidade Jardim e houve uma hora que nos cansamos e sentamos em um local onde haviam barras de ferro para treinar ginastica olímpica.
___Humbert você se lembra aquela vez da garota que tinha o dorso de cavalo?___perguntou Dannyel.
Minha memória retrocedeu para muitos anos atrás quando avistamos aquele bizarro acontecimento.
___Claro que lembro,já tentei escrever sobre isso,mas sempre empaco, foi super bizarro.___respondi.
___Vou ser sincero,eu não acredito nisso não !__disse Evandro,eu não o conhecia muito bem,ou melhor,a verdade é que eu não o conhecia, mas simpatizei com ele desde o momento em que o conheci.
___Mas esse acontecimento é verdadeiro,Evandro!___disse para ele,que ficou sem graça,mas logo se recuperou.
___Nem eu acredito,acho que foi ilusão coletiva isso sim. Já que nunca ouvi sua versão Humbert,acho que você poderia nos contar.
Fechei meus olhos e os acontecimentos vieram a tona.
Em um dia qualquer em 1999,eu estava entediado,decidi andar,peguei minha bicicleta e saí sem rumo,andei pelo bairro todo,desci até a Cidade Jardim e parei para descansar em frente a um velho centro espirita que na época estava abandonado,chamado O Consolador.
Avistei uma menina loira dentro do jardim,e comecei a observa-la,parecia alguem conhecido, mas eu não me lembro até hoje quem. Ela devia ter quatro anos de idade e o que me chamou atenção foi seu rosto triste enquanto cutucava um formigueiro com um pequeno galho. Pensei em conversar com ela e tentar anima-la, mas antes que fizesse isso,uma sombra surgiu atrás de um portão (que era a entrada para a casa onde as pessoas estudavam o evangelho),eu observei aquela forma humana toda negra parecida com uma mulher de cabelos curtos,era semelhante a uma sombra viva, ela chamou pela menina,não consegui escutar o nome, mas a menina saiu do jardim e atravessou o portão,como se fosse um fantasma. Naquele momento eu fiquei assustado e saí dali.
Dois anos depois,Dannyel,Diego e eu estávamos próximos do lugar,contei a eles o acontecimento,Dannyel muito curioso decidiu passar lá,fomos os três andamos e ficamos exatamente onde eu estava dois anos antes,havia uma outra menina no mesmo lugar,cabelos castanhos,lisos e longos,parecia muito com a irmã de Diego, estava a jogar agua nas flores,tinha a mesma idade da outra,ficamos observando quase hipnotizados,e de repente quando a agua molhou o robe rosa que ela vestia,este subiu como se houvesse um vento forte e nós três avistamos da cintura para baixo o corpo de um cavalo. Ficamos estarrecidos os três,vimos a mesma coisa os três não poderia ser uma ilusão,quando estávamos para sair dali a menina se jogou ao chão e em seu lugar surgiu um cavalo,quando estávamos perto da esquina eu avistei aquela sombra novamente.
___E foi isso que aconteceu.__contei-lhes os acontecimentos,todos se calaram por um instante,mas depois voltamos a andar,e eu fingi ter esquecido.
Passamos em um bar,iriamos jogar bilhar,mas avistei um conhecido que tinha a incrível façanha de ser desagradável por pedir dinheiro e não largar do meu pé,ele estava usando uma cadeira de rodas e suas pernas haviam sido amputadas, ele veio até a mim,e me cumprimentou.
___Olá Humbert,como você está?___ele parecia meio tremulo.
___Estou bem e você?Que tem feito?
___Estou bem,não ando fazendo nada,afinal foram-se as pernas, mas me diga..tem um real aí para contribuir com minha cachacinha de sempre?
___Vixe,nem tenho. ___suspirei.___Esse filho da puta não muda nunca,pensei em meu íntimo. Ele agradeceu e desceu a rua empurrando a cadeira de rodas.
Fomos para outro bar,e compramos as fichas para jogar o bilhar,acho que estava incrivelmente sortudo, joguei até bem,haviam algumas pessoas desconhecidas no bar,atônitas com minha presença,pensei ser por causa de minha roupa preta, que costumo usar,em Humbertlândia isso não é comum, mas um cara veio até mim e falou:
___Ei foi você que espancou o Alex com o taco outro dia no bar da pracinha não é?
___Não fui eu, mas há algum problema?___fiquei um pouco nervoso,mas me controlei, ele parecia querer encrenca.
___Não, não, deixa pra lá,curte o jogo aí,ninguém vai te incomodar!___o rapaz saiu e voltei a jogar.
Bebemos uma cerveja,acompanhados pelo Roberto Carlos que cantava na jukebox, terrível situação,pensei ao beber a cerveja, logo mais eles me acompanharam até onde eu estava hospedado e no caminho perguntei:
___Ei o que aconteceu com as pernas do Chico? ___Apolônio fez uma cara sarcástica.
___Você nem acredita...após você e sua família se mudarem da casa que vocês venderam, ele foi tentar roubar um cara que vivia lá, e quando ia pular o muro caiu sobre umas barras de ferro que estavam fincadas no chão. Elas atravessaram as pernas dele,e ai não tiveram outra saída senão amputar.__explicou Apolônio.
De repente me veio uma visão em pensamento, um homem magro e franzino vestido com uma jardineira e usando um chapéu longo de palha surpreendendo Chico a noite no quintal,bateu com o cabo da enxada na cabeça de Chico em seguida riu e amputou as pernas dele com a enxada. Fiquei meio tonto e antes de entrar em casa Evandro disse:
___Outros dizem que o cara que morava lá que cortou as pernas dele.
Ao destrancar o portão eu entrei na casa,estava escuro,as coisas pareciam ter uma forma assustadora a noite,assim acontece em todas cidade do interior,ao menos parece,olhei para o lado e pensei ter visto eu mesmo encostado na parede com as mãos no bolso sorrindo. Balancei a cabeça e destranquei a porta da casa,após assistir o intercine fui dormir. Novamente tive um pesadelo.
Francisco estava bebendo uma garrafa de 51 e passava em frente a minha antiga casa,de repente o velho portão de aço abriu sozinho e a cadeira de rodas moveu-se para o lado e começou a deslizar para dentro da casa,ele tentou voltar para fora,mas não conseguiu,o portão se fechou e a cadeira deslizou para um corredor escuro,e Francisco começou a gritar.
Acordei,mais uma vez,eram duas horas da tarde, a mãe de Atanael esquentou a comida,conversamos um pouco sobre São Paulo,a violência,entre outros assuntos vistos em programas policiais, depois disso me despedi e peguei a bicicleta emprestada. Saí para visitar outras pessoas das quais sentia saudade.
Fui até a casa de meu amigo e parceiro em horas intermináveis de RPG, chamei por ele,que saiu e ao me ver abraçou-me,começamos a conversar e relembrar os velhos tempos. Até que Helenice, a mãe dele apareceu e me cumprimentou.
___Lembra do Humbert,mãe ?___perguntou o velho Zé.
___ Claro que lembro,sabe o que é engraçado meu filho?__ela me perguntou.
___O que ?___perguntei-lhe,um pouco curioso.
___ As vezes tenho a impressão de vê-lo andando por essas ruas...__ela entrou em casa e me convidou para voltar e comer pão de queijo.
Achei estranho o comentário,mas não liguei e continuei a conversar com Zé e contando-lhe novidades,ouvindo ele falar sobre seus “rolos” com as garotas dali.
___Zé meu velho vou indo nessa, nos vemos por aí,vou visitar a Fabiana!__ abracei-o e subi na bicicleta.
___Tá certo,apareça para jogarmos uma partida e cuidado com o pai dela,ele continua um porre.__rimos e eu parti.
Ah se ele soubesse como peguei raiva de RPG e seus jogadores em São Paulo que levavam seus devaneios do jogo para realidade, guiei a bicicleta até a casa de Fabiana, ao chegar lá,milagrosamente o velho chato não estava e ela me convidou para entrar e tomar um café.
Pausa para um comentário: O cafezinho mineiro é simplesmente delicioso e envolvente.
___Como você está diferente,quase não o reconheci...e aí como você está meu amigo?__perguntou a linda garota branca e seus olhos verdes.
Ouvi-la dizer “amigo” me incomodava, mas eu deixei pra lá, afinal após tantos anos não existia mais nada entre nós,apenas uma lembrança de algo distante e talvez pouco infantil, mas aqueles lábios rosas me faziam voltar a anos no passado enquanto eu os beijava loucamente na casa de alguma amiga em um quarto pequeno e escuro,enquanto rolava uma festa.
___Estou bem,linda. Saudades de você!E aí o que você tem feito?__respondi feliz.
___Somente trabalhando e aturando um namorado ciumento,não muito diferente de você.___ela riu e seus olhos verdes encontraram os meus. Sempre charmosa.
___Sua exagerada!Nem sou tão ciumento,vai!Apenas preservo o que amo!___um flerte inevitável começou a surgir.
___Você nunca muda em,sempre conquistador e ótimo com as palavras!E aí terminou seus livros?__ela perguntou serrando ao meio minha tentativa de flerte.
___Bem sou um escritor decadente,fumante e quase-alcoólatra!Mas vou indo bem,escrevo estórias de terror,mas poemas ainda são prioridades,eu escrevi “Gaveta Empoeirada de Emoções”,fique com este exemplar que trouxe para você. Há um poema para você aí. __no meu intimo eu ri,ohohooh, e o flerte recomeça. Adoro isso.
___Jura? Deixe-me ler!__abri o livro na página,ela leu,sorriu e me deu um abraço, que poderia ter se tornado um beijo,a boca dela estava perto da minha, até tive vontade de tentar algo, mas isso seria uma atitude muito filho da puta.
___Amei,você tem que assinar pra mim na página da dedicatória!As vezes me pergunto porque não estou hoje com você!__ela disse.
___Eu também. __e uma risadinha maliciosa escapou,conversamos bastante e fui embora, antes que o velho chato voltasse ou o namorado pé no saco!
Quando descia a rua dos periquitos,um garotinho loiro e branquinho surgiu de repente na minha frente,eu o atropelei e ambos caímos,a bicicleta foi parar na calçada e eu ralei meus dois braços e o ombro.
___Izvinite...___disse o garotinho de aparentemente sete anos ao levantar.
___Nossa ele falou desculpa em russo,pensei. E perguntei a ele se falava russo.
__Falo e melhor que você.___ele riu e aqueles olhos azuis me assustaram.
___Você se machucou?___perguntei preocupado mas ainda assustado com aquela face estranha.
___Não,mas você que vai se machucar se continuar andando assim por ai.__ele se despediu e foi embora.
Fui para casa e tomei um banho,apos isso recebi a ligação de uma amiga chamada Camila,e marquei de vê-la depois. Fui ao encontro de meus três amigos e fomos jantar em um restaurante.
___Que braço ralado é esse rapaz?___perguntou Dannyel.
___Um filho da puta de um moleque russo que entrou na frente da bicicleta e me derrubou.___respondi.
___Ah não,outro pivete russo?___disse Apolônio.
1.___Como assim outro?___perguntei.
2.___Tinha um quer morava lá na rua dos cisnes,era uma peste,mas ele sumiu,não me lembro que aconteceu e a família se mudou.___disse Apolônio.
Após jantar,passamos em frente minha antiga casa,muitas imagens vieram na minha cabeça,risadas ecoaram em minha mente,e comecei a ver diversas crianças estripadas na antiga sala de minha casa,vi o rosto de Francisco e o rosto do garotinho russo rindo com os movimentos acelerados. Minha visão ficou negra e eu caí.
___O que foi Humbert?__me perguntaram.
___Nada, preciso ir,descansar...até mais galera.
Acendi um cigarro e me despedi fui encontrar Camila, Núbia e Suelen,após falarmos muita besteira e nos divertir bastante,fui para casa de Atanael.
Ao entrar uma força invisível me empurrou,caí sentado no chão e senti um soco no rosto que jogou na parede uma mão invisível parecia m erguer,e o garotinho russo apareceu.
___Olá,não acha que tá na hora de voltar pra casa?___ele riu,uma mão invisível parecia me estrangular,mas tive forças para mover minha perna e acertar o menino.
Ele caiu ao chão no mesmo momento que eu,sua boca sangrava e ele se levantou primeiro e tinha uma faca na mão,ele tentou me cortar,mas me esquivei e o peguei pelo pescoço começando a enforca-lo,ele ainda tentou me furar mas tirei a faca da mão dele e o bati na parede umas três vezes.
___Me solta seu filho da puta!___eu o joguei no chão,de repente o menino se levantou,e estava nu,ele pegou a faca.___Você é igual ao meu pai!Maldito! ___ele furou a perna com a faca,em seguida rasgou o próprio peito,chorando e rindo,tentei impedi-lo,mas ele desapareceu e reapareceu do outro lado,e começou a cortar o rosto,o sangue jorrava em minha roupa,ele começou a cortar o próprio rosto,eu estava sem voz não conseguia gritar,ele furou os dois olhos e enquanto o sangue jorrava lambeu a faca cheia de sangue e sorriu.___Dessa vez é em sua homenagem não dele!
Eu me desesperei e caí sentado no chão,ele desapareceu, mas o sangue continuava em minhas roupas.
Entrei tirei a roupa e a queimei no quintal,tomei um banho e depois fui até o PC que ficava na sala, e comecei a pesquisar na internet e através do site de um jornal local,entre as matérias antigas eu achei uma que batia com o que eu procurava.
“Garoto russo desaparecido é encontrado morto,suspeita de suicídio.”
A foto do menino era idêntica ao que havia me atacado a poucos minutos,seu nome era Nikolai Petrovich Volkov.
De repente recebi um telefonema,era Camila me informando que Fabiana havia desaparecido,fiquei desesperado e fui encontra-la junto das amigas em frente a casa dela.
Ao chegar andamos um pouco para nos distrair e passamos em frente a uma construção de uma casa enorme,e todos nós ouvimos alguém gritar meu nome.
___Essa voz é da Fabiana,vamos lá ajuda-la!
Ao entrarmos na construção inacabada,começamos a procurar por ela,Núbia e Suélen queria que nos separássemos para procura-la,mas eu as convenci a ficarmos juntos que era mais seguro.
De repente um ser deformado surgiu e nos atacou,ele tinha em suas mãos um tesoura de jardineiro e quando tentou cortar o pescoço de Núbia, Camila a puxou conseguindo salva-la, todas começaram a gritar,e gritar por Fabiana o homem riu e disse que logo iriamos encontra-la, eu avancei sobre ele e ambos rolamos pelo chão, ele tentou pegar a tesoura que havia caído,mas eu consegui o deter,ele começou a me enforcar com uma mão, e tirou um bisturi do bolso e quando ia me cortar percebeu que uma delas pegou a tesoura e me soltou,indo na direção dela, Suélen e Camila desciam as escadas correndo e ouvi seus gritos,rezei para o pior não ter acontecido.
___Então a garotinha acha que sabe usar a tesoura !!!Vem me contar lindinha!__ele avançou para cima dela e a derrubou quando ia fura-la com o bisturi eu consegui impedir o chutando,virando-se para o meu lado o ser deformado veio até a mim e quando ele ia me cortar consegui segurar o braço dele e o derrubar,mas o homem se levantou e me chutou,senti uma dor no estomago mas na hora em que ele ia enfiar o bisturi em meus pescoço Núbia conseguiu reaver a tesoura e num rápido impeto conseguiu cortar a mão dele,o sangue começou a jorrar,ele segurou o pulso e gritou,o bisturi estava no chão eu o peguei e cravei no estomago dele, mas o homem correu e saltou por uma janela desaparecendo.
Ouvi sirenes e ajudei Núbia a sair da casa,policiais entraram e ao revistar a construção não acharam ninguém, eles nos acusaram de entrar sem necessidade num lugar perigoso a noite, mas dissemos ter ouvido os gritos de uma amiga desaparecida.
Após tomar o depoimento de todos nós,levaram as garotas para casa numa viatura e em outra levaram me até a casa de Atanael.
Ele estava preocupado,os policiais contaram o acontecido,eu tomei um banho e cai na cama,dormi rapidamente,sem pesadelos a me atormentar.
Acordei no dia seguinte e o tranquilizei dizendo que estava bem,peguei a bicicleta e guiei até uma igreja em outro bairro,ao guardar a bicicleta sentei me em um dos bancos e ali fique,rezei um pouco,então o padre se aproximou de mim e ao me ver chorar começou a conversar comigo.
___Acho que estou sendo perseguido por uma coisa não-natural,padre.___falei para ele.
___Seja o que for não pode contra Deus e a fé que há em seu coração!__disse o padre sentado ao meu lado.
Após conversar bastante comigo,eu me levantei e agradeci.
___Já sei o que fazer,eu irei até a fonte do problema.__disse confiante.
___Nada poderá te abalar filho. Acredite e você poderá mudar tudo. Fique com isso.___ele me deu um rosário e me desejou boa sorte,eu agradeci e após caminhar para fora da igreja acenei um tchau e sorri.
Ao montar na bicicleta, guiei até o bairro onde ficava minha antiga casa ao observa-la de longe,ouvi uma voz feminina a me chamar,e a face de uma mulher refletida no vidro da janela sorriu para mim.
Fui até a casa de Dannyel e fiquei até anoitecer,deixei a bicicleta por lá e disse que ia sair para dar uma voltar sozinho,ele me entendeu e disse que ia esperar meu retorno.
Caminhei lentamente e vi que todos estavam em suas casas e pensei: “É hora de retornar a minha!”, ao entrar na rua da antiga casa eu ouvi sinos tocarem e caminhei até onde morava.
Quando olhei para a casa uma luz se acendeu na sala e portão de ferro rangeu e abriu sozinho,uma voz sussurrou “Entre...seja bem vindo!”,após entrar o portão se fechou e a luz se apagou.
Caminhei pelo corredor escuro,e vi que não havia mais a porta da sala por onde entrava a anos atrás,continuei seguindo o corredor e de repente tropecei em algo e cai ao olhar para trás vi a cadeira de rodas de Chico toda ensanguentada,a roda ainda girava,me levantei e tirei o rosário do bolso e o enrolei nas mãos.
De repente pelo corredor eu avistei vários corpos infantis estirados as paredes estavam sujas de sangue e com órgãos internos grudados,fedia bastante ,mas continuei andando e cheguei até o quintal.
Vi a velha goiabeira onde há muito tempo eu passava minhas tardes,haviam várias cabeças penduradas,ao olhar vi a cabeça de Francisco e de outras pessoas sussurrando “Humbert...”,ao me aproximar eu toquei na cabeça decapitada de Francisco.
____Meu Deus...___de repente as cabeças começaram a vomitar sobre mim eu me afastei e senti alguem atrás de mim,comecei a rezar apertando o rosário de metal, e ao me virar vi um homem de aproximadamente dois metros com tridente na mãos,ele vestia roupas de jardineiro,que estavam sujas de sangue e usava um enorme chapéu de palha.
___Passou longe senhor Humbert.___ao ouvir seu sotaque familiar virei e olhei para ele,então ouvi sua risada, ele acertou o cabo do tridente em meu nariz e o quebrou eu caí com as mãos no nariz ensaguentado e ele tentou me atravessar com o tridente,por sorte errou, me levantei.
___Quem disse que era procê levantar seu bostinha?Senta de novo!__e me acertou novamente com o cabo na perna me derrubando,ao cair ele tentou me acertar novamente mas o detive com o braço,ele bravejou mas eu me levantei e acertei um murro em seu estomago,ele chutou meu ombro e veio para cima com o tridente,por sorte me desviei e ele não me acertou,quando segurei no tridente para toma-lo ele me levantou e jogou contra uma das paredes feitas de ossos humanos,senti uma dor terrível e escorreguei até o chão,quando ele ia arrancar minha cabeça me desviei e ele prendeu o tridente na parede,eu apertei o rosário e de repente uma força me veio,consegui me levantar e enquanto ele tentava soltar o tridente em meio aos ossos,eu dei um murro no rosto dele com a mão que estava envolvida o rosário,ele caiu no chão,e sua face onde acertei começou a apodrecer e vermes caiam , antes que ele se levantasse o atingi novamente no rosto e uma parte dele ficou grudado no rosário,ele gritou e quando foi tentar se levantar vi um sangue negro escorrer de sua face deformada pelos golpes,o rosto apodrecido sem expressão olhou para mim.
___Maldito!Vou usa-lo como adubo !___eu arranquei o tridente que estava preso e quando ele ergueu o rosto novamente eu atravessei a cabeça dele com as pontas, ele caiu no chão,sua cabeça dividiu-se em duas como uma maçã podre, num acesso de fúria eu despedacei todo o corpo com o tridente,até sobrarem os restos e estes serem devorados pelos vermes em poucos segundos.
___Agora você vai adubar o inferno seu infeliz!___Caminhei até a porta dos fundos e ela se abriu ao entrar, a porta se fechou e desapareceu, eu segui caminhando e rezava para achar Fabiana,ao caminhar pela cozinha a geladeira se abriu e eu vi partes humanas dentro,me afastei com náuseas,e de repente do ralo da pia passou a jorrar sangue que molhou todo meu corpo.
Corpos infantis guardados dentro do armário me apontaram a direção a seguir,saí da cozinha e as paredes cheias de excremento e restos mortais iam desaparecendo a medida que ficavam para trás.
Ao chegar na sala Nikolai me esperava.
___Afaste-se Nikolai não quero feri-lo!___minhas mãos que seguravam o tridente tremiam.
___Pra que se importar já morri mesmo!___ele riu.___Você mente, é igual ao meu pai que só me machucava e fazia coisas feias!___ele chorou e meu corpo foi lançado contra a parede por uma força invisível, eu reuni forças e consegui mover os braços o atravessando com o tridente, ele arrancou o tridente da barriga e o desfez em pó.___Você vai morrer agora!Igual ao meu pai!
Com as mãos nuas ele perfurou meu peito e eu vi uma mancha negra começar a se espalhar pelo meu corpo,uma dor insuportável me tomava mas lutando contra ela gritei:
___Você não precisa fazer isso!
___Você não precisava ter me ferido!___ele disse e afundou mais as mãos em meu peito.
___Nikolai você pode ser feliz!Você não precisa machucar ninguém!___nesse instante ele retirou as mãos que atravessavam meu peito,a mancha negra desapareceu e não havia mais um ferimento. Suas lágrimas rolaram pela face.
___Como?Como posso ser feliz depois de tudo?___ele se ajoelhou e uma faca surgiu em sua mão.
___Não faça isso fique com quem te ama!___abaixei até ele,mas ele me afastou com a faca.
____A pessoa que eu amo permitiu meu pai abusar de mim!A minha própria mãe!___ele gritou ,mas antes que se cortasse eu tomei a faca de suas mãos e joguei no chão.
____Ela sentiu tanta dor quanto você por não poder fazer nada contra aquele monstro, mas ele morreu não pode ameaçar,nem ela ,nem você. Você é mais forte que ele,você o derrotou,você está livre.
___Eu estou?___balbuciou o menino.
___Sim,vá embora agora encontre sua mãe e fique com ela,perdoe-a. ___ele chorou e me abraçou,lágrimas caíram de meus olhos, e num impeto beijei a testa dele, ele sussurrou obrigado em russo,acenou adeus e foi desaparecendo pouco a pouco.
A sala voltou ao normal, mas o restante continuava tomado pela maldade e pela podridão.
___Já sei onde devo ir.___caminhei até a porta de meu quarto e ela se abriu ergui o rosto e entrei apertando o rosário.
A porta se fechou,e ao olhar para frente vi Fabiana presa nas paredes repletas de sangue e cadáveres,caminhei até ela e tentei lhe ajudar mas metade do seu corpo estavam ainda dentro da parede.
Quando tentei ajuda-la novamente surgiu de repente chamas que me afastaram dela, e nos separaram um circulo de fogo impedia que eu andasse pelo quarto e de repente vi uma pessoa surgir,era idêntico a mim
___Surpreso?Em saber que o mal a ameaçar sua vida tem o seu rosto?
Meus olhos não acreditam,ele fez um sinal com as mãos e o fogo em volta de mim se expandiu e Fabiana desapareceu, reaparecendo em seguida presa ao teto.
___Será que você pode ajudar sua amiga antes que o fogo chegue até lá?__ele riu,eu me enfureci e tentei golpeá-lo usando a mão que envolvia o rosário. Mas ele a segurou.___Esse truque não vai funcionar comigo.___Ao me soltar ele gesticulou a mão e o rosário começou a sangrar e se desfez espalhando-se pelo quarto.
___Maldito!Eu não sei quem você é ou o que é!Mas levo você junto comigo!__tentei derruba-lo mas ele desfez em uma fumaça negra, e ao perceber estava atrás de mim ele começou a levitar meu corpo e o jogou contra o teto ao lado de Fabiana.
___Vamos brincar de esmagar o babaca!___e cada vez que movia as mãos meu corpo era jogado contra o chão e o teto,sucessivamente.
Meu corpo caiu novamente ao chão,e quando me levantei ele segurou minhas mãos impedindo-me de fazer qualquer coisa.
___Aproveite agora essa sessão de acupuntura gratuita!___espinhos começaram a sair pela minha pele jorrando sangue para todos os lados,comecei a gritar até que pela minha boca começou a sair terra e espinhos começavam a sair pelo rosto. Até que eu não conseguia mais me mover e estava quase morto.___Qual sua ultima palavra?___naquele instante consegui falar,a terra não mais me sufocava.
___Por que tudo isso?
___Porque dessa vez eu faço o jogo.__ele respondeu.___Melhor fazer a próxima você só tem mais 3 minutos de sofrimento e vida até se tornar parte da casa.
___Quem é você?___o sangue escorria pela minha boca e molhava o chão.
___Eu sou uma criatura de seus jogos,que ganhou vida própria,eu faço minhas regras.___ele abaixou e chegou perto de meu ouvido.___Como é morrer pelas mãos do que você criou?__e sua risada doentia ecoou.
___Se você me criou eu posso descria-lo.___e comecei a rir.__Adeus filhão!
O corpo dele começou a tremer e ele caiu,eu me levantei e não havia mais ferimentos em meu corpo.
___Eu tomo as regras de volta e você acaba de ser descriado!
___Não!Não pode ser!___o corpo dele ficou preso ao chão. E ele não conseguia se levantar.
___Você já criou problemas demais!Adeus!
O corpo dele começou a pegar fogo,ele levitou e grudou em uma das paredes.
___Como você se sente sendo devorado pelo seu lar?___a parede então começou a suga-lo e mastigou cada pedaço até não sobrar mais nada.
Naquele instante Fabiana ia cair, corri e consegui segura-la antes que atingisse o chão,o fogo aumentou e eu comecei a correr amparando-a até achar a porta da da sala que havia ressurgido e escapamos daquele inferno.
Ao chegar fora da casa o portão estava trancado e não abriu,o pânico tomou conta de mim,será que eu morreria tomado pelas chamas?
Uma luz se acendeu no poste e iluminou o portão que abriu sozinho,rapidamente corri para rua puxando Fabiana que estava desacordada. Ao colocar o corpo dela deitado na rua,eu olhei para a casa uma ultima vez e estava se desfazendo rapidamente engolida pelo fogo.
Epílogo
Os bombeiros chegaram junto da polícia,ao certo acionados por algum vizinho,após nos socorrer tentaram em vão apagar o fogo da casa,mas este parecia ser mais forte e a casa queimou até não restar nada.
Em seu depoimento á policia Fabiana mencionou ter sido raptada por um maníaco, que era meu sósia,tentaram achar o corpo dele nos poucos destroços que sobraram,mas não havia nada,alegaram a hipótese que o cadáver havia sido vaporizado no incêndio.
Apenas encontraram inteiro um rosário de metal,que foi me entregue pelos bombeiros,eu o beijei agradecendo e o enrolei nas mãos.
Após Fabiana sair do hospital a visitei uma ultima vez,ela não se lembrava de nada desde o momento que estava dentro da casa,melhor assim, eu acho.
Após pegar bicicleta na casa de Daniel eu tinha um ultimo lugar para ir antes de partir para São Paulo. Mas antes Dannyel me perguntou:
___Como você fez para sobreviver a tudo?E para lutar com o maníaco?
Eu apenas mostrei o rosário, e ele sorriu,montei na bicicleta e guiei até o cemitério Bom Pastor e coloquei uma rosa na sepultura de um certo Nikolai Volkov.
___Descanse em paz.
Voltei para a casa de Atanael,e arrumei as minhas coisas para voltar a São Paulo.
___E aí você ainda volta?__ele perguntou.
___Sim,um dia desses nos vemos por aqui.___respondi e o agradeci.
Após subir na moto ele me deixou na rodoviária e partiu acenando. Após entrar na rodoviária e caminhar até a plataforma de embarque eu pensei:
___Droga nem me despedi dos meus amigos direito.
Quando o ônibus estava prestes a sair eu olhei pela janela e vi,meus três amigos,juntos de Suélen,Núbia e Camila acenando e gritando adeus,eu apenas sorri e acenei também.
O ônibus partiu,quando estava na estrada segurei o rosário e adormeci, finalmente estava voltando para casa.
Sábado 28 de Julho de 2007 - 04:54
Comentários
12 de fevereiro de 2012
Não percam :)
Abraços