A CASA 2466 (Conto)
Autor:Willian Oliveira
Na zona norte de São Paulo, existe uma casa, onde ela se encontra havia um terreno, que hoje, foi dividido dando origem a lojas e outras casas, porem a casa nunca foi demolida. Para que entenda melhor lhes contarei sua história, uma história antiga, uma tragédia que houve antes mesmo de eu nascer.
Anos atrás quando minha mãe não devia ter mais de 14 ou 15 anos, naquela rua, naquela casa, morava uma família, constituída de cinco pessoas, o dono do terreno, sua esposa e seus três filhos sendo um deles ainda bebê.
Um dia (não sei lhes dizer qual absolutamente) o dono do terreno entra com uma arma em suas mãos, atravessa o portão, entra pela porta da sala e olha para sua mulher durante demorado tempo, levanta a arma e dispara, um tiro certeiro, as crianças choram assustadas, o pai vai a seu encontro e, sem exitar, atira nas duas, resta apenas o bebê que chora em seu berço, ele vai em sua direção e vê seu ultimo filho, o choro de agudo forte, a cara rosada de tanto chorar, ele puxa o gatilho levanta a arma me direção ao berço estabelecendo uma mira firma, seu olhar é frio, suas mãos não tremem, e antes do ultimo suspiro; ele dispara, agora só resta o silêncio, quebrado apenas pelo seu relógio carrilhão, ele olha em volta apreciando seu feito, da alguns passos e fica de frente para o relógio que, agora, desfere badaladas sinistras, pela ultima vez ele puxa o gatilho, como véu que se desloca ao vento ele encosta o cano da arma na fronte de sua cabeça, seus olhos frios fitam o nada, sua mão não treme diante do ato final de sua vida, ele dispara, seu corpo cai, e todos os cinco corpos perecem abandonados no chão.
Os empregados, da casa que não tinham permissão para entrar sem a presença de seus patrões, ao voltarem de sua folga estranharam a casa fechada e silenciosa. Imaginando que teriam viajado todos voltaram para casa, o único que fica é o caseiro que morava ao longo do terreno, e ia cuidar das plantas e do pomar atrás da casa.
Poucos meses depois, mesmo sem noticias de seus patrões, ele continuava cuidando da propriedade, vivendo de “bico” até que seus patrões voltassem. A noite se vê envolvido por uma sensação que jamais sentira antes, um sufoco terrível, como se fosse a soma de todos os medos que já sentira antes, ele acorda suado e tremulo, olha para os lados assustado, não a nada e nem ninguém, toma um copo de água e, quando finalmente se acalma, ele claramente escuta os berros da esposa e o choro das crianças, mas que estranho porque não escreveram avisando de sua volta, e porque a sua esposa berrava e as crianças choravam. Tudo bem não devia ser nada mais do que uma discussão e as crianças estavam assustadas, o caseiro voltou a dormir prometendo a si que os comprimentaria e iria deixá-los a par da situação.
De manhã cedo o caseiro tomou seu desjejum e foi ao encontro da família, mas, que esquisito, a casa estava exatamente como estava a meses, silenciosa, aparentemente vazia, com portas e janelas fechadas,enfim, parecia estar abandonada.
O caseiro chama pelo nome de seus patrões (havia um cheiro podre ao se aproximar da casa), bate na porta, ninguém atende (o cheiro parecia vir de dentro da casa), chamou e bateu varias e varias vezes, ninguém atende, será que havia sido apenas impressão sua? Não, apesar de sua idade, já com quase cinquenta anos, tinha absoluta certeza de que estava bem de suas faculdades mentais, não estava ficando louco, ou será que estava. Bem decidiu deixar tudo como estava, depois veria o que iria fazer a respeito, estava pensando em marcar uma consulta com um psicanalista, e o cheiro, algum animal deve ter sido morto e deixaram seu corpo nas redondezas , após cuidar das plantas e voltar de seu “serviço extra” ele procuraria o cadáver.
Decidido tudo o que iria fazer o caseiro se virou decidido a ir embora, desceu o primeiro degrau da escada, o segundo, o terceiro perto de encerar o lance de escadas seu coração disparou, um grito, um grito feminino, mas grave, tão grave que quase estourou seus tímpanos, tão forte que seria capaz de se fazer ouvir o mais enfermo dos surdos e afugentar o coração do mais corajoso dos homens. De onde vinha aquele grito, não era de longe, não, era de perto, muito perto, vinha de sua direita, não, não vinha de suas costa, sim vinha de..., de..., seu coração se espremeu no peito, seus pulmões não conseguiam, parecia que não queriam mais respirar, o grito, que já cessará, vinha de dentro da casa.
Depois de um momento frio, meio que por encanto suas pernas viraram e endireitaram seus pasos em direção a porta, estendeu o braço em direção a maçaneta e girou-a. Com um ruído leve a porta abriu, o ar que bateu em seu rosto continha aquele cheiro, agora mais forte, o mais profundo bafo da morte.
A casa estava um tanto escura empoeirada e mofada também, e aquele cheiro, esperou sua vista se acostumar a escuridão, agora sim podia distinguir melhor os moveis o espaço, e..., seus olhos se apertaram contra o crânio a fim de não ver mais aquilo, uma tormenta se iniciava em seu estomago, começou a sentir náuseas, regurgitou tudo que havia comido, se sentia sufocado, estava tonto, sua visão se escurecia, tinha certeza, iria morrer ali mesmo, mais uma vez ele olha aquela cena e cai sem saber de mais nada.
O caseiro se vê preço dentro da casa, cadê, cadê eles, ele jura que estavam ali, ele corre, tenta arrombar a porta , não consegue, ele clama por socorro, mas parece que ninguém escuta, por que esta tão escuro la fora? Já anoiteceu? Ele lança uma cadeira em direção a janela o vidro se quebra, ele quer sair, ele vai sair, mas, não, os caos ficam suspensos no ar, e com o mesmo som com se quebraram o vidro se refez;”Elias”, uma voz chamou atrás do caseiro, com medo ele se vira, sua mente não assimila, seus próprios olhos não acreditam em tão imagem ; os cinco de pé em posição de retrato de família, a esposa estava de pé a esquerda de seu marido, se lembrava daquilo, daquele vestido branco feito de cetim (o favorito dela) agora, manchado de sangue, ela o encarava com um único olho, pois metade de sua cabeça não existia mais, tudo que via era uma parcela oca jorrando sangue e restos de miolo que deveria ter sido seu cérebro, em seu colo ela devia estar segurando seu filho menor, pois só dava para ver algo semelhante a uma trouxa coberta por uma manta encharcada de sangue, a frente dos dois, os filhos mais velhos, ambos entre 14 e 15 anos, com uma ferida grave no peito, era bizarro tal cena, ele podia ver seus corações dilacerados batendo, o pai, apesar do terno sujo de sangue, é o único sem nenhuma ferida, pensava assim, até ele, o pai, olhar para a trouxa no colo de sua esposa e ele ver um imenso buraco na fronte de seu crânio. “Elias” disse o marido, agora, encarando-o, um olhar fora do normal até mesmo para quem esta morto, passava ao mesmo tempo angustia, medo, tristeza, temor, frieza, arrependimento e excitação, pelo que fez ou estava para fazer, “junte-se a nós Elias” dizia ele, o caseiro não tinha fôlego para falar, apenas acenou a cabeça negativamente; “você não entende” disse agora a esposa “não tem escolha, vai ter que ficar” seu medo ultrapassava todos os limites imagináveis, talvez todos que um ser humano possa suportar, “cuide de nós Elias, pegue nossa mão”, falaram os dois irmãos estendo suas mãos ensangüentadas,”não, não,não,não, não, não” gritava o caseiro contra a parede diante de tão macabra oferta,”todo aquele que ultrapassar e profanar este que é nosso tumulo, esta condenado a permanecer de corpo e alma, pois aqui habita aqueles que por um pecado foram amaldiçoados e não obtivemos perdão, por isso que quem entrar não será perdoado seja ele culpado ou não”, disseram-lhe os quatro, eles andavam em sua direção dizendo seu nome repetidas vezes, passos pequenos, sem pressa, o bebê começa a chorar, um choro atormentador, era alto, alto demais, tão insuportável que seus tímpanos doíam, começou a chorar, segurava os ouvidos quando de se agachou encostado na parede, balançando, com medo,”Elias,Elias,Elias, Elias...”, falavam os cinco, suave, não gritando, mas clamando, no instinto de recuar ele faz um leve corte no braço, ele sente sua aproximação, estão mais perto, quando sente uma mão tocar seu ombro, ele grita, abre os olhos, a luz do sol praticamente o cega, entra em pânico, “Calma”diz alguém, ele percebe, então, que esta de frente para a entrada de uma ambulância, devagar ele se acalma, ele olha ao seu redor, vê duas viaturas e duas ambulâncias , na porta da casa homens saem carregando sacos pretos, um em cada extremo e colocando-os na outra ambulância.
Elias estava tão chocado que só mais tarde veio perceber o corte em seu braço, ”teria sido um sonho” pensou ele com a maca pronta para ser posta na ambulância, enquanto parte ele olha pela janela, a janela da casa, ele olha ar o motorista que manobra na tentativa de tomar o caminho em direção ao hospital, uma vez mais ele olha para a janela, e fica aterrorizado, porque vê algo que não estava ali, a família com seus corpos feridos olhando em sua direção, e antes que a ambulância fassa a curva em direção ao seu destino, ele observa os dois irmãos acenando em sua despedida, aqueles que vivem para sempre na casa 2466.
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